Catequese e Doutrina
Da página 1 à 8
transcrito das primeiras páginas do Livro:
As Maravilhas do Pe.
Donizete
Autoria de Dom Dadeus
Grings
Da página oito até o
final trascrito do Catecismo:
Catecismo da Igreja
Católica
Redigido depois do
Concílio Vaticano II
Com aprovação do Papa
João Paulo II
Coletânea de Nestor
de Oliveira Filho
Ano de 2005
SANTIDADE DE DEUS
“E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós,
e vimos sua glória, a glória que um Filho
único recebe de seu Pai,
cheio de graça e de verdade... Todos nós
recebemos de sua plenitude, graça sobre graça” (Jô 1,14-16).
Só em Deus o homem é
grande. Ou, na expressão de S. Agostinho: “Fizestes-nos para Vós, Senhor, e o
nosso coração está irrequieto enquanto não repousar em Vós!”
Na verdade só Deus é o que é. Foi a definição que Ele deu a Moisés no
Monte Horeb: “eu sou quem sou”. Este se tornou o nome oficial de Deus para os
judeus o identificarem diante das diversas divindades pagãs: Javé! (cf. Ex.
3,13-15).
Isaias, envolto pela liturgia celeste, ouviu vozes arcanas a cantar:
“Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus do universo. A terra inteira proclama a
sua glória” (Is. 6,3). E ali logo nos dá a entender que a santidade é a nota
característica de Deus.
A experiência humana nos leva à descoberta de muitas verdades e nos
ajuda na concepção de muitas coisas. Assim formamos conceitos, que podem ser
qualificados como sublimes e exprimem perfeição, como: bondade, vida, amor,
justiça, misericórdia etc.. chegamos até a aplicar estes conceitos, que são
verdadeiras imagens intelectivas nossas, a Deus, ou inversamente, representamos
Deus estas imagens. Elas são humanas, frutos de nossa mente e baseadas na nossa
experiência. Contém certamente uma expressão de perfeição que intuímos em Deus.
A santidade porém não pertence à categoria humana. É exclusiva de Deus,
enquanto distinto de toda criatura. O Antigo Testamento a apresenta como um
abismo intransponível, que torna Deus totalmente inacessível à busca humana.
Moisés faz a
primeira experiência da santidade de Deus ao tentar aproximar-se da sarça
ardente. Foi detido nesta sua pretensão:
Santidade de Deus 2
‘Não te aproximes daqui. Tira as
sandálias de teus pés, porque o lugar em te encontras é uma terra santa” (Ex
3,5). A partir da revelação da santidade divina, crer em Deus equivale a
santificá-lo; o que é o mesmo que reconhecer que Ele é santo. Em outras
palavras, ser santo é ser divino.
Os profetas de Israel deram mais um passo na revelação da santidade de
Deus, calcando seu aspecto moral. Deus não só transcende o que é fisicamente
frágil, mas também o que é moralmente imperfeito. Neste sentido o pecado
constitui uma profanação do santo nome
de Deus e, conseqüentemente, afasta o homem de Deus e o faz tremer diante da
elevação moral e da majestade divinas. Por esta razão, para o acesso à
divindade, exige-se, como condição, a purificação.
Sendo característica divina, a santidade nos apresenta Deus numa
majestade inacessível, que incute medo, mas, ao mesmo tempo, numa benignidade e
misericórdia, que atrai. Assim, pela santidade, Deus se revela como juízo e
como graça; como temor e como amor, que reverberam no coração humano. Por ela o
homem toma consciência de sua nudez e impureza (Gen. 3,10) e, ao mesmo tempo,
do apelo para a conversão, sentindo um irresistível fascínio para Ele.
A santidade é tão caracteristicamente divina que, onde aparece algum
indício dela, surge espontâneo o reconhecimento da obra de Deus. são correntes
as expressões: “só Deus poderia ter feito isto”; ou, vendo uma pessoa nestas
condições: “é um homem de Deus”... Ao se dirigir às criaturas, Deus é reconhecido
como o santo, que “julga e torna feliz; ajuda e salva”.
A santidade de Deus aparece pois como uma força que penetra todo o
universo. A norma que Ele próprio deixou é: “Sede santos, porque Eu, vosso
Deus, sou Santo” (Lev. 11,44). Fazer a vontade de Deus é tornar-se, por
imitação, santo como Ele. Mas este “fazer” é mais uma graça que uma decisão
humana; é mais um dom de Deus que uma busca do homem.
Santidade de Deus 3
Santidade de Deus 3
Por isso a liturgia da Missa proclama: “Vós sois Santo e fonte de toda
santidade” (II) ou na oração eucarística IV: “a fim de não mais vivermos para
nós, mas para Ele, que por nós morreu e ressuscitou, enviou de vós, ó Pai, o
Espírito Santo, como primeiro dom aos vossos fiéis para santificar todas as
coisas, levando à plenitude a sua obra”. O prefácio dos santos reconhece que
nossos méritos, na verdade, são dons de Deus.
Deus estabelece
sua santidade entre os homens através de uma Aliança. A lei e os Ritos do
Antigo Testamento tinham por finalidade educar o povo que fora santificado,
fazendo com que resplandecesse nele a imagem da santidade divina. Apresenta-se
como vocação e como graça: é chamado e é dom. “Ele, o Senhor, é quem santifica
seu povo” (Lev. 22,32).
O Novo Testamento inicia com a proclamação do canto de Maria: “Santo é o
seu nome” (Lc. 1,49). Neste momento o nome de Deus é plenamente santificado: “O
Santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc. 1,35). E a partir dele
se irradia a santidade entre os homens: reconhecemos o Filho único, cheio de
graça e de verdade. Todos nós recebemos de sua plenitude, graça sobre graça
(Jô. 1,16).
Em Cristo se encontra “a plenitude da divindade”, o que quer dizer: a
plenitude da santidade e da graça. Por isso o Pai o ama e Ele ama o Pai por um
amor indefectível. Veio para transmitir esta santidade aos homens. Por isso
“constituiu a uns apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas,
pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da
tarefa que visa a construção do corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado
à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado do
homem feito, a estatura da maturidade de
Cristo” (Ef. 4,11-13).
Por isso São Paulo não hesita em chamar os cristãos de santos: “Aos
fiéis santificados em Jesus Cristo, chamados à santidade” (1 Cor. 16,1). No
final da mesma carta aos Coríntios fala da coleta “em benefício dos santos” da
comunidade de Jerusalém (cf. 1 Cor. 16,1). Na carta aos Efésios, o apóstolo nos
apresenta o grande plano de Deus: “Escolheu-nos em Cristo antes da criação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos” (Ef. 1,4).
Santidade de Deus 4
Invoca o Espírito de sabedoria “que ilumine os olhos do vosso coração, para que
compreendais a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança
que Ele reserva aos santos, e qual a suprema grandeza de seu poder para
conosco, que abraçamos a fé” (Ef. 1,17-19).
Nesta perspectiva se entende a grandeza e dignidade da vida cristã: “Já
não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da
família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo
por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É nele que todo o edifício,
harmonicamente disposto, se levanta até formar um templo santo no Senhor. É
nele que também vós outros entrais conjuntamente, pelo Espírito, na estrutura
do edifício que se torna a habitação de Deus” (Ef. 2,19-22).
Paulo não nos deixa dúvidas acerca da vontade de Deus. ele, “quer que
todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim. 2,4). E
insiste: “Eis uma verdade absolutamente certa e merecedora de fé: Jesus Cristo
veio a este mundo para salvar os pecadores” (1 Tim. 1,15). Por isso
professamos, no Creio, que “por causa de nós homens e por causa de nossa
salvação o Filho de Deus desceu do céu e se fez homem”.
A OPÇÃO
FUNDAMENTAL
O grande dilema humano é a opção entre a terra e o céu, o que significa:
escolher entre adorar a terra, concentrando todo o empenho na conquista de
valores terrestres, que todos conhecemos muito bem, destacando-se o dinheiro e
a riqueza material, ou adorar a Deus, colocando Nele a salvação e
reconhecendo-O como valor supremo. Em outras palavras, é preciso escolher entre
ser mais amigo da terra, com seu destino e ecossistema fechado, ou ser mais
amigo do céu, com sua proposta de amor, de paz, de santidade. Os valores da
terra são expressos em termos de domínio, de utilidade, de autonomia, de
riqueza material. Os valores do céu se expressam pela santidade, pela
receptividade, pela interação, pelo amor, pelo conhecimento da verdade.
Santidade de Deus 5
Mas não se trata apenas de opção. Na base está a ação divina: “O que o
dom da vida inicia, o dom da graça completa”. Falamos inclusive em “estado de
graça” para exprimir a santidade que se expressa pela vida de fé, esperança e
caridade. Esta santidade não se identifica com o que humanamente se poderia
julgar como atitudes perfeitas, nem se coloca em proporção com a perfeição
humana. Em outras palavras, ser santo não é estar isento de defeitos; nem pode
ser considerado mais santo quem tenha menos defeitos.
A santidade não é pois uma conquista, ou destaque individual, que vise
exaltar alguém diante dos outros, como imune de defeitos. Já vimos que a
santidade é própria de Deus. Portanto, ser santo é participar de Deus. É
deixar-se guiar e formar por Ele.
Ora, S. João, meditando a ação de Deus no mundo, descobriu que Ele é
Amor. Logo, participar de Deus é amar. O próprio Apóstolo amado põe o critério:
quem ama é nascido de Deus e conhece a Deus (1 Jo. 4,7). E para certificar-nos
de que não exagerou, inverte a perspectiva: quem não ama não conhece a Deus,
porque Deus é amor (1 Jo. 4,8). Isto equivale a dizer: quem ama é santo, e
vice-versa: quem é santo ama. A santidade está, pois, na proporção do amor.
Entenda-as bem: do Amor que vem de Deus.
A santidade está, obviamente, ligada à salvação. Pode-se por isso dizer:
quem é santo está salvo e vice-versa: quem está salvo é santo.
Estar salvo tem algo a ver com o céu. Isto é óbvio quando se diz de quem
está no céu. Logo entendemos que é santo. Neste sentido se tem a impressão de
que ser santo e estar salvo significa estar no céu.
Se por céu significamos um “lugar” ou situação para onde vamos após a
morte em estado de graça, não conseguimos plenamente traduzir a idéia de
salvação. Na verdade, céu indica o encontro com Deus, que pode ser mais ou
menos intenso.
Santidade de Deus 6
Ora, encontrar Deus significa amá-lo sobre todas as coisas, reconhece-lo Pai, Salvador e Santificador. Isto pode e deve acontecer já aqui na terra, mesmo que seja na penumbra da fé. Foi exatamente para cá, para nossa vida terrena, que nos é anunciada a mensagem do amor e da misericórdia de Deus.
Santidade de Deus 6
Ora, encontrar Deus significa amá-lo sobre todas as coisas, reconhece-lo Pai, Salvador e Santificador. Isto pode e deve acontecer já aqui na terra, mesmo que seja na penumbra da fé. Foi exatamente para cá, para nossa vida terrena, que nos é anunciada a mensagem do amor e da misericórdia de Deus.
Portanto quem verdadeiramente encontrou Deus, por Jesus Cristo e pela
força do Espírito Santo, já está salvo e, conseqüentemente, antecipa a
realidade do céu aqui na terra. É a felicidade que se faz presente no dia a
dia. É a realização plena dos desejos mais profundos. Por isso S. Agostinho
pôde exclamar, após esta descoberta: “Tarde, muito tarde te encontrei”. E
sentenciava: “Fizestes-nos para Vós, Senhor, e nosso coração está irrequieto
enquanto não repousar em Vós”. É que ele se deu conta de que perdera muito
tempo, na infelicidade, por ignorar que o céu pode ser vivido aqui na terra,
pelo encontro com Deus.
É claro que este céu não se restringe à vida terrena. Quem crê na
eternidade, não só como uma realidade em si, mas principalmente como uma
condição pessoal, que lhe diz respeito, e conseqüentemente tem a certeza da
ressurreição, sabe que esta felicidade com Deus não se esgota nesta peregrinação
terrestre. Não termina com a morte. Antes pelo contrário: é ali que se
manifesta, de modo pleno, o que somos. Então, não mais creremos nem
esperaremos, mas veremos Deus como Ele é. Ser realmente amigo de Deus é gozar
do céu para sempre. Trata-se de bens que jamais serão tirados, nem se quer pela
morte. Por isso o cristão, conforme expressão de S. Paulo, é alegre pela
esperança. Tem valores que não lhe serão tirados. Nem a traça os corrói, nem o
ladrão furta.
Mas ninguém vive para si. A vida humana é necessariamente convivência.
Assim, quem encontrou Deus vive o plano de Deus. Santo é quem ama. E quem ama
irradia a santidade de Deus no mundo. Por isso se pode, com muita razão, dizer
que o santo – qualquer pessoa santa que encontrarmos neste mundo – já é nosso
paraíso. Representa um pouco de céu para os homens. É um sinal concreto do amor
de Deus no mundo.
Santidade de Deus 7
Nele e por ele encontramos Deus e por isso tornamo-nos, só com este contato humano, revestidos de fé na santidade, mais felizes. Encontrar um “homem de Deus” confere paz e confiança. Dá a certeza de que o amor e que a santidade de Deus se tornou próxima dos homens.
Santidade de Deus 7
Nele e por ele encontramos Deus e por isso tornamo-nos, só com este contato humano, revestidos de fé na santidade, mais felizes. Encontrar um “homem de Deus” confere paz e confiança. Dá a certeza de que o amor e que a santidade de Deus se tornou próxima dos homens.
Para conseguir esta santidade se empreendem viagens; se fazem
peregrinações; se buscam informações. As pessoas se submetem a muitas privações
e fazem grandes sacrifícios. Mas, quando chegam ao destino, exclamam: valeu a
pena! São como os peregrinos judeus em demanda de Jerusalém, ao contemplá-la,
cheios de fé, do alto do Monte das Oliveiras, cantavam: “Louva Jerusalém o
Senhor! Louva teu Deus, ó Sião!” (Sl. 147,1). A presença do santo transmite paz
e alegria para quem vive neste mundo.
Se alguém não se convencer com esta irradiação positiva da santidade,
poderá inverter a consideração. As trevas costumam ressaltar melhor a luz. Se
quem crê em Deus percebe no santo lampejos de felicidade e pode atestar que ele
já é nosso paraíso, quem, ao invés, não crê, vê nos outros o inferno. O amor
incondicional à terra, sem o Amor que vem de Deus, cria situações penosas para
os homens: injustiças, ódios, violência, corrupção, falsidade, uma série de
males provocados pelos homens maus. Por isso o homem, sem santidade, inferniza
a vida dos outros e a dele próprio. Um inferno que ele sofre e causa, que se
perpetua também para além da morte.
Pelo contraste destas sombras podemos melhor apreciar o fulgor da luz da
santidade. Santo é aquele que não deseja nem faz mal a ninguém. É como Jesus,
que “passou fazendo o bem” (At. 10,38). Além de serem as pessoas mais felizes
do mundo, os santos são também aqueles que tornam mais felizes os homens.
Encontraram sua razão de ser, estão de posse do Valor supremo, harmonizaram
todas as dimensões de sua vida na perspectiva do Absoluto e único necessário,
no qual convergem todas as coisas e todas adquirem sentido.
Pelo testemunho
dos santos pode-se constatar que nem tudo está perdido. Pelo contrário:
sente-se que o mundo está salvo.
Santidade de Deus 8
Apesar de todas as vicissitudes humanas, o céu
é uma realidade já aqui na terra. Os santos manifestam ao mundo “a misteriosa
magia da santidade”. Podem eventualmente assustar e incomodar os pecadores,
desnudando sua mesquinhez. Mas, acima de tudo, a santidade atrai e eleva até às
alturas de Deus, ao qual então agradecemos “por sua imensa glória”, que
transparece nos santos, que se encontram entre nós.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
CAPÍTULO I
CREIO EM DEUS PAI
Nossa profissão de
fé começa com Deus, pois Deus é “o Primeiro e o Último” (Is 44,6), o Começo e o
Fim de tudo. O Credo começa com Deus Pai, pois o Pai é a Primeira Pessoa Divina
da Santíssima Trindade; nosso Símbolo começa pela criação do céu e da terra,
porque a criação é o começo e o fundamento de todas as obras de Deus.
ARTIGO 1
CREIO EM DEUS PAI TODO PODEROSO
CRIADFOR DO CÉU E DA TERRA
PARÁGRAFO 1
CREIO EM DEUS
“Creio em Deus”: esta primeira afirmação da profissão de fé é também a
mais fundamental. O Símbolo inteiro fala de Deus, e se fala também do homem e
do mundo, fá-lo pela relação que eles têm com Deus. os artigos do Credo
dependem todos do primeiro, da mesma forma que os mandamentos explicitam o
primeiro deles. Os demais artigos nos fazem conhecer melhor a Deus tal como se
revelou progressivamente aos homens. “Os fiéis fazem primeiro profissão de crer
em Deus”.
Santidade de Deus 9
I. CREIO EM UM SÓ DEUS
É com estas palavras que começa o Símbolo niceno-constantinopolitano. A
confissão da Unicidade de Deus, que tem a sua raiz na Revelação Divina na
Antiga Aliança, é inseparável da confissão da existência de Deus, e igualmente
fundamental. Deus é Único: só existe um Deus: “A fé cristã confessa que há Um
só Deus, por natureza, por substância e por essência”.
A Israel, seu eleito, Deus revelou-se como Único: “Ouve, ó Israel: O
Senhor nosso Deus é o único Senhor! Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo
o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Dt 6,4-5). Através
dos profetas, Deus chama Israel e todas as nações a se voltarem para ele, o
Único: “Voltai-vos para mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque
eu sou Deus e não há nenhum outro!... Com efeito, diante de mim se dobrará todo
joelho, toda língua há de jurar por mim, dizendo: Só no Senhor há justiça e
força”.
Jesus mesmo confirma que Deus é “o único Senhor” e que é preciso amá-lo
de todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças.
Ao mesmo tempo dá a entender que ele mesmo é “o Senhor”. Confessar que “Jesus é
o Senhor” é o específico da fé cristã. Isto não contraria à fé em Deus único.
Crer no Espírito Santo “que é Senhor e dá a Vida” não introduz nenhuma divisão
no Deus único:
Cremos firmemente e afirmamos simplesmente
que há um só verdadeiro Deus eterno, imenso e imutável, incompreensível,
todo-poderoso e inefável, Pai, Filho e Espírito Santo: Três Pessoas, mas uma
Essência, uma Substância ou Natureza absolutamente simples.
Santidade de Deus 10
II. DEUS REVELA
SEU NOME
A seu povo Israel Deus revelou-se dando-lhe a conhecer o seu nome. O
nome exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido da sua vida. Deus
tem um nome. Ele não é uma força anônima. Desvendar o próprio nome é dar-se a conhecer
aos outros; é de certo modo entregar-se a si mesmo tornando-se acessível, capaz
de ser conhecido mais intimamente e de ser chamado pessoalmente.
Deus revelou-se progressivamente a seu povo e com diversos nomes, mas é
a revelação do nome divino feita a Moisés na teofania da sarça ardente, pouco
antes do Êxodo e da Aliança do Sinai, que ficou sendo a revelação fundamental
para a Antiga e a Nova Aliança.
O DEUS VIVO
Deus chama Moisés do meio de uma sarça que queima sem consumir-se. Deus
diz a Moisés: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o
Deus de Jacó” (Ex 3,6). Deus é o Deus dos pais, Aquele que havia guiado os
patriarcas nas suas peregrinações. Ele é o Deus fiel e compassivo que se lembra
deles e das suas próprias promessas; vem para libertar os seus descendentes da
escravidão. Ele é o Deus que, para além do espaço e do tempo, pode e quer
faze-lo, e que colocará sua onipotência em ação a serviço deste projeto.
EU SOU AQUELE QUE
É
Moisés disse
a Deus: “Quando eu for aos filhos de Israel e disser: ‘O Deus de vossos pais me
enviou até vós’, e me perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’, que direi?” Disse Deus
a Moisés: “Eu sou Aquele que é”. “Assim dirás aos filhos de Israel: ‘EU SOU me
enviou até vós”... Este é o meu nome para sempre, e esta será a minha lembrança
de geração em geração (Ex 3,13,15).
Ao revelar seu nome misterioso de Iahweh, “Eu sou Aquele que â” ou “Eu
Sou Aquele que SOU” ou também “Eu sou Quem sou”,
Santidade de Deus 11
Deus declara Quem Ele é e com que nome se deve chamá-lo. Este nome divino é misterioso como Deus é misterioso. Ele é ao mesmo tempo um nome revelado e como a recusa de um nome, e é por isso mesmo que exprime, da melhor forma, a realidade de Deus como ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: ele é o “Deus Escondido” (Is 45,15), seu nome é inefável, e ele é o Deus que se faz próximo dos homens.
Santidade de Deus 11
Deus declara Quem Ele é e com que nome se deve chamá-lo. Este nome divino é misterioso como Deus é misterioso. Ele é ao mesmo tempo um nome revelado e como a recusa de um nome, e é por isso mesmo que exprime, da melhor forma, a realidade de Deus como ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: ele é o “Deus Escondido” (Is 45,15), seu nome é inefável, e ele é o Deus que se faz próximo dos homens.
Ao revelar seu nome, Deus revela ao mesmo tempo a sua fidelidade, que é
de sempre e para sempre, válida tanto para o passado (“Eu sou o Deus de teu
pai”, Ex 3,6) como para o futuro: (“Eu estarei contigo” Ex 3,12).Deus que
revela seu nome como “Eu Sou” revela-se como o Deus que está sempre presente
junto ao seu povo para salvá-lo.
Diante da presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre sua
pequenez. Diante da sarça ardente, Moisés tira as sandálias e cobre o rosto em
face da Santidade Divina. Diante da glória de Deus três vezes santo, Isaias
exclama: “Ai de mim, estou perdido! Com efeito, sou um homem de lábios impuros”
(Is 6,5). Diante dos sinais divinos que Jesus faz, Pedro exclama: “Afasta-te de
mim, Senhor, porque sou um pecador” (Lc 5,8). Mas porque Deus é santo, pode
perdoar ao homem que se descobre pecador diante dele: “Não executarei o ardor
da minha ira... porque sou um Deus e não um homem, eu sou santo no meio de ti”
(Os 11,9). O apóstolo João dirá: “Diante dele tranqüilizaremos nosso coração,
se nosso coração nos acusa, porque Deus é maior do que nosso coração e conhece
todas as coisas” (Jô 3,19-20).
Por respeito
à santidade de Deus, o povo de Israel não pronuncia seu nome. Na leitura da
Sagrada Escritura o nome revelado é substituído pelo título divino “Senhor”
(“Adonai”, em grego “Kyrios”). É com este título que será aclamada a divindade
de Jesus: “Jesus é Senhor”.
Santidade de Deus 12
DEUS DE TERNURA E
DE COMPAIXÃO
Depois do pecado de Israel, que se desviou de Deus para adorar o bezerro
de ouro, Deus ouve a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio de um povo
infiel, manifestando assim o seu amor. A Moisés que pede para ver sua glória,
Deus responde: “Farei passar diante de ti toda minha beleza e diante de ti
pronunciarei o nome de Iahweh” (Ex 33,18-19). E o Senhor passa diante de Moisés
e proclama: “Iahweh, Iahweh, Deus de ternura e de piedade, lento para a cólera,
e rico em amor e fidelidade” (Ex 34,5-6). Moisés confessa então que o Senhor é
um Deus que perdoa.
O nome divino “Eu sou” ou “Ele é” exprime a fidelidade de Deus que,
apesar da infidelidade do pecado dos homens e do castigo que ele merece,
“guarda o seu amor a milhares” (Ex 34,7). Deus revela que é “rico em
misericórdia” (Ef 2,4), indo até o ponto de dar o seu próprio Filho. Ao dar sua
vida para libertar-nos do pecado, Jesus revelará que ele mesmo traz o Nome
divino: “Quando tiverdes elevado o Filho do homem, então sabereis que ‘EU SOU’”
(Jô 8,28).
SÓ DEUS É
Ao longo dos séculos a fé de Israel pôde desdobrar e aprofundar as
riquezas contidas na revelação do nome divino. Deus é único, fora dele não há
deuses. Transcende o mundo e a história. Foi ele quem fez o céu e a terra:
“Eles perecem, mas tu permaneces; todos ficam gastos como a roupa... mas tu
existes, e teus anos jamais findarão!” Sl 102,27-(28). Nele “não há mudança,
nem sombra de variação” (Tg 1,17). Ele é “Aquele que é”, desde sempre e para
sempre, e é assim que permanece sempre fiel a si mesmo e às suas promessas.
A revelação do nome inefável “Eu sou aquele que sou” contém, pois, a
verdade de que só Deus é. É neste sentido que já a tradução dos Setenta e, na
esteira deles, a Tradição da Igreja, compreenderam o nome divino: Deus é a
plenitude do Ser e de toda perfeição, sem origem e sem fim. Ao passo que todas
as criaturas receberam dele todo o seu ser e o seu ter, só ele é o seu próprio
ser, e é por si mesmo tudo o que é.
Santidade de Deus 13
Santidade de Deus 13
III. DEUS, “AQUELE
QUE É”, É VERDADE E AMOR
Deus, “Aquele que é”, revelou-se a Israel como Aquele que é “rico em
amor e em fidelidade” (Ex 34,6). Estes dois termos exprimem de forma condensada
as riquezas do nome divino. Em todas as suas obras Deus mostra sua
benevolência, bondade, graça, amor, mas também sua confiabilidade, constância,
fidelidade, verdade. “Celebro teu nome por teu amor e verdade” (Sl 138,2). Ele
é a verdade, pois “Deus é Luz, nele não há trevas” (Jô 1,5), é “Amor”, como
ensina o apóstolo João (1Jo 4,8).
DEUS É VERDADE
“O princípio da tua palavra é a verdade, tuas normas são justiça para
sempre” (Sl 119,160). “Sim, Senhor Deus, és tu que és Deus, tuas palavras são
verdade” (2Sm 7,28); é por isso que as promessas de Deus sempre se realizam.
Deus é a própria Verdade, suas palavras não podem enganar. É por isso que
podemos entregar-nos com toda confiança à verdade e à fidelidade da sua palavra
em todas as coisas. O começo do pecado e da queda do homem foi uma mentira do
tentador que induziu a duvidar da palavra de Deus, da sua benevolência e
fidelidade.
A verdade de Deus é a sua sabedoria que comanda toda a ordem da criação
e do governo do mundo. Deus, que sozinho criou o céu e a terra, é o único que
pode dar o conhecimento verdadeiro de toda coisa criada na sua relação com ele.
Deus é verdadeiro também quando se revela: O ensinamento que vem de Deus
é “uma doutrina de verdade” (Ml 2,6). Quando enviar seu Filho ao mundo, será
“para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37): “Nós sabemos que veio o Filho de
Deus e nos deu a inteligência para conhecer- mos o Verdadeiro”.
Santidade de Deus 14
DEUS É AMOR
Santidade de Deus 14
DEUS É AMOR
Ao longo da sua história, Israel pôde descobrir que Deus tinha uma única
razão para revelar-se a ele e para tê-lo escolhido dentre todos os povos para
ser dele: seu amor gratuito. E Israel entendeu, graças a seus profetas, que foi
também por amor que Deus não cessou de salvá-lo e de perdoar-lhe a sua
infidelidade e seus pecados.
O amor de Deus por Israel é comparado ao amor de um pai por seu filho
(Os 11,2). Este amor é mais forte do que o amor de uma mãe pelos seus filhos.
Deus ama seu Povo mais do que um esposo ama sua bem-amada, este amor se
sobreporá até às piores infidelidades; irá até a mais perigosa doação: “Deus
amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único” (Jo 3,16).
O amor de Deus é “eterno” Is 54,8): “Os montes podem mudar de lugar e as
colinas podem abalar-se, mas o meu amor não mudará” (Is 54,10). “Eu te amei com
um amor eterno, por isso conservei por ti o amor” (Jr 31,3).
Mas S. João irá ainda mais longe ao afirmar: “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16);
o próprio Ser de Deus é Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempos, seu Filho
único e o Espírito de Amor, Deus revela o seu segredo mais íntimo: Ele mesmo é
eternamente intercâmbio de amor: Pai, Filho, e Espírito Santo, e destinou-nos a
participar deste intercâmbio.
IV. O ALCANCE DA FÉ NO DEUS ÚNICO
Crer em Deus, o Único, é amá-lo com todo o seu ser, tem conseqüências
imensas para toda nossa vida:
Significa conhecer a grandeza e a majestade
de Deus: “Deus é grande demais para que o possamos conhecer” (Jó 36,26).
É por isso que Deus deve ser o “primeiro
a ser servido”.
Significa viver em ação de graças: Se
Deus é o Único, tudo o que somos e tudo o que possuímos vem dele: “Que é que
possuis, que não tenhas recebido?” (1Cor 4,7). “Como retribuirei ao Senhor todo
o bem que me fez?” (Sl 116,12).
Santidade de Deus 15
Santidade de Deus 15
Significa conhecer a unidade e a verdadeira
dignidade de todos os homens: Todos eles são feitos “à imagem e à
semelhança de Deus” (Gn 1,27).
Significa usar corretamente das coisas criadas:
A fé no Deus Único nos leva a usar de tudo o que não é ele na medida em que
isto nos aproxima dele, e a desapegar-nos das coisas na medida em que nos
desviam dele:
Meu Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que me
afasta de vós.
Meu Senhor e
meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós.
Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim
mesmo para doar-me por
inteiro a vós.
Significa confiar em Deus em qualquer
circunstância, mesmo na adversidade. Uma oração de Sta. Teresa de Jesus
exprime-o de maneira admirável:
Nada te
perturbe / nada te assuste
Tudo passa /
Deus não muda
A paciência
tudo alcança / Quem a Deus tem
Nada lhe falta. / Só Deus basta.
RESUMINDO
“Ouve, ó
Israel, o Senhor nosso Deus é o Único Senhor...”(Dt 6,4; Mc 12,29). “É preciso
necessariamente que o Ser supremo seja único, isto é, sem igual... Se Deus não
for único, não é Deus”.
a fé em Deus
leva-nos a voltar-nos só para Ele como nossa primeira origem e nosso fim
último, e a nada preferir a Ele nem substituí-lo por nada.
Ao
revelar-se, Deus permanece Mistério inefável: “Se o compreendesses, ele não
seria Deus”.
O Deus da
nossa fé revelou-se como Aquele que é; deu-se a conhecer como “cheio de amor e
fidelidade” Ex 34,6). O seu próprio ser é Verdade e Amor.
Santidade de Deus 16
PARÁGRAFO 2
O PAI
I. “EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO”
Os cristãos são batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”
(Mt. 28,19). Antes disto eles respondem “Creio” à tríplice pergunta que os
manda confessar sua fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo: - A fé de todos
os cristãos consiste na trindade -.
Os cristãos são batizados “em nome” do Pai e do Filho e do Espírito
Santo, e não “nos nomes” destes três, pois só existe um Deus, o Pai
todo-poderoso, seu Filho único e o Espírito Santo: a Santíssima Trindade.
O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida
cristã. É o mistério de Deus em si mesmo, é, portanto, a fonte de todos os
outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental
e essencial na “hierarquia das verdades de fé”. “Toda a história da salvação
não é senão a história da via e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e
único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia-se consigo e une a si
os homens que se afastam do pecado”.
Neste parágrafo se exporá brevemente de que modo é revelado o mistério
da Santíssima Trindade (I), de que maneira a Igreja formulou a doutrina da fé
sobre este mistério (II), e, finalmente, de que modo, através das missões
divinas do Filho e do Espírito Santo, Deus Pai realiza seu “desígnio
benevolente” de criação, de redenção e de santificação (III).
Os padres da
Igreja distinguem entre a “Theologia” e a “Oikonomia”, designando com o
primeiro termo o mistério da vida íntima do Deus-Trindade, e com o segundo
todas as obras de Deus através das quais ele se revela e comunica a sua vida. É
através da “Oikonomia” que nos é revelada a “Theologia”. Mas, inversamente, é a
“Theologia” que ilumina toda a “Oikonomia”. As obras de Deus revelam quem ele é
em si mesmo; e inversamente, o mistério do seu Ser íntimo ilumina a compreensão
de todas as suas obras. Acontece o mesmo, analogicamente, entre as pessoas
humanas. A pessoa mostra-se no seu agir, e quanto melhor conhecermos uma
pessoa, tanto melhor compreendemos o seu agir.
Santidade de Deus 17
A Trindade é um mistério de fé no sentido estrito, um dos “mistérios
escondidos em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados do
alto”. Sem dúvida Deus deixou vestígios do seu ser trinitário na sua obra de
Criação e na sua Revelação ao longo do Antigo Testamento. Mas a intimidade do
seu Ser como Santíssima Trindade constitui um mistério inacessível à pura razão
e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do
Espírito Santo.
II. A REVELAÇÃO DE DEUS COMO
TRINDADE
O PAI REVELADO
PELO FILHO
A invocação de Deus como “Pai” é conhecida em muitas religiões. A
divindade é muitas vezes considerada como “pai dos deuses e dos homens”. Em
Israel, Deus é chamado de Pai enquanto criador do mundo. Deus é Pai, mais
ainda, em razão da Aliança e do dom da Lei a Israel, seu “filho primogênito”
(Ex. 4,22). É também chamado de pai do rei de Israel. Muito particularmente ele
é “o Pai dos pobres”, do órfão e da viúva que estão sob sua proteção de amor.
Ao designar a Deus com o nome de “Pai”, a
linguagem da fé indica principalmente dois aspectos: que Deus é origem primeira
do tudo e autoridade transcendente, e que ao mesmo tempo é bondade e solicitude
de amor para todos os seus filhos. Esta ternura paterna de Deus pode também ser
expressa pela imagem da maternidade, que indica mais a imanência de Deus, a
intimidade entre Deus e a sua criatura. A linguagem da fé inspira-se assim na
experiência humana dos pais (genitores), que são de certo modo os primeiros
representantes de Deus para o homem. Mas esta experiência humana ensina também
que os pais humanos são falíveis e que podem desfigurar o rosto da paternidade
e da maternidade. Convém então lembrar que Deus transcende a distinção humana
dos sexos. Ele não é nem homem e nem mulher, é Deus. Transcende também à
paternidade e a maternidade humanas, embora seja a sua origem e a medida:
ninguém é pai como Deus o é.
Santidade de Deus 18
Jesus revelou que Deus é “Pai” num sentido inaudito: não o é somente enquanto Criador, mas é eternamente Pai em relação a seu Filho único, que reciprocamente só é Filho em relação a seu Pai: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt. 11,27).
É por isso que os apóstolos confessam Jesus como “o Verbo” que “no
início estava junto de Deus” e que “é Deus” (Jô. 1,1), como “a imagem do Deus
invisível” (Cl. 1,15), “como o resplendor de sua glória e a expressão do seu
ser” (Hb 1,3).
Na esteira deles, seguindo a Tradição apostólica, a igreja, no ano de
325, no primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia, confessou que o Filho é
“consubstancial” ao Pai, isto é, um só Deus com Ele. O segundo Concílio
Ecumênico, reunido em Constantinopla em 381, conservou esta expressão na sua
formulação do Credo de Nicéia e confessou “o Filho Ùnico de Deus, gerado do Pai
antes de todos os séculos, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
gerado não criado, consubstancial ao Pai”.
O PAI E O FILHO
REVELADOS PELO ESPÍRITO
Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um outro “Paráclito”
(Defensor), o Espírito Santo. Em ação desde a criação, depois de ter outrora
“falado pelos profetas”, ele estará agora junto dos discípulos e neles, afim de
ensiná-los e conduzi-los “à verdade inteira” (Jô 16,13). O Espírito Santo é
assim revelado como uma outra pessoa divina em relação a Jesus e ao Pai.
A origem eterna do
Espírito revela-se na sua missão temporal. O Espírito Santo é enviado aos
apóstolos e à Igreja, tanto pelo Pai, em nome do Filho, como pelo Filho em
pessoa, depois que este tiver voltado para junto do Pai. O envio da pessoa do
Espírito após a glorificação de Jesus revela em plenitude o mistério da
Santíssima Trindade.
A fé apostólica no
tocante ao Espírito foi confessada pelo segundo concílio ecumênico em 381, em
Constantinopla:
Santidade de Deus 19
“Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e que dá a vida, ele procede do Pai”. Com isto a Igreja reconhece o Pai como “a fonte e a origem de toda a divindade”. Mas a origem eterna do Espírito Santo não deixa de estar vinculada à do Filho: “O Espírito Santo, que é a Terceira Pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza... Contudo, não se diz que Ele é somente o Espírito do Pai, mas ao mesmo tempo o Espírito do Pai e do Filho”. O Credo da Igreja, do Concílio da Constantinopla, confessa: “Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a mesma glória”.
Santidade de Deus 19
“Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e que dá a vida, ele procede do Pai”. Com isto a Igreja reconhece o Pai como “a fonte e a origem de toda a divindade”. Mas a origem eterna do Espírito Santo não deixa de estar vinculada à do Filho: “O Espírito Santo, que é a Terceira Pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza... Contudo, não se diz que Ele é somente o Espírito do Pai, mas ao mesmo tempo o Espírito do Pai e do Filho”. O Credo da Igreja, do Concílio da Constantinopla, confessa: “Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a mesma glória”.
A tradição latina do Credo confessa que o Espírito “procede do Pai e do
Filho(Filioque)”. O Concílio de Florença, em 1438, explicita: “O
Espírito Santo tem sua essência e seu ser subsistente ao mesmo tempo de Pai e
do Filho e procede eternamente de Ambos como de um só Princípio e por uma única
expiração... E uma vez que tudo o que é do Pai, o Pai mesmo o deu ao seu Filho
Único ao gerá-lo, excetuado o seu ser de Pai, esta própria processão do
Espírito Santo a partir do Filho, ele a tem eternamente de seu Pai que o gerou
eternamente”.
A afirmação
do filioque não figurava no símbolo professado em 381 em Constantinopla.
Mas com base em uma antiga tradição latina e alexandrina, o papa S. Leão o
havia já confessado dogmaticamente em 447, antes que Roma conhecesse e
recebesse, em 451, no concílio de Calcedônia, o símbolo de 381. o uso desta
fórmula no Credo foi sendo admitido pouco a pouco na liturgia latina (entre ao
séculos VIII e XI). Todavia, a introdução do Filioque no Símbolo
niceno-constantinopolitano pela liturgia latina constitui, ainda hoje, um ponto
de discórdia em relação às Igrejas ortodoxas.
A tradição
oriental põe primeiramente em relevo o caráter de origem primeira do Pai em relação ao Espírito. Ao confessar o
Espírito como “procedente do Pai” (Jô 15,26), ela afirma que o Espírito procede
do Pai pelo Filho. A tradição ocidental põe primeiramente em relevo a
comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho afirmando que o Espírito procede
do Pai e do Filho (Filioque). Ela afirma “de forma legítima e racional”, pois a
ordem eterna das pessoas divinas na sua comunhão consubstancial implica não só
que o Pai seja a origem primeira do Espírito enquanto “princípio sem
princípio”, mas também, enquanto Pai do Filho Único, que seja com ele “o único
princípio do qual procede o Espírito Santo”. Esta legítima complementaridade,
se não for radicalizada, não afeta a identidade da fé na realidade do mesmo
mistério confessado.
Santidade de Deus 20
III. A SANTÍSSIMA TRINDADE NA DOUTRINA DA FÉ
A FORMAÇÃO DO
DOGMA TRINITÁRIO
A verdade revelada da Santíssima
Trindade esteve desde as origens na raiz da fé viva da Igreja, principalmente
através do Batismo. Ela encontra a sua expressão na regra da fé batismal,
formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Tais formulações
encontram-se já nos escritos apostólicos, como na seguinte saudação, retomada
na liturgia eucarística: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a
comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13).
No decurso dos primeiros séculos, a Igreja procurou formular mais
explicitamente a sua fé trinitária, tanto para aprofundar a sua própria
compreensão da fé, quanto para defendê-la contra erros que a estavam
deformando. Isso foi obra dos Concílios antigos, ajudados pelo trabalho
teológico dos Padres da Igreja e apoiados pelo senso da do povo cristão.
Para a formulação do dogma da Trindade, a
Igreja teve de desenvolver uma terminologia própria recorrendo a noções de
origem filosófica: “substância”, “pessoa” ou “hipóstase”, “relação” etc. Ao
fazer isto, não submeteu a fé a uma sabedoria humana senão que imprimiu um
sentido novo, inaudito, a esses termos, chamados a significar a partir daí
também um Mistério inefável, que “supera infinitamente tudo o que nós podemos
compreender dentro do limite humano”.
A Igreja utiliza o termo
“substância” (traduzido também, às vezes, por “essência” ou por “natureza”)
para designar o ser divino na sua unidade, e o termo “pessoa” ou “hipóstase”
para designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na sua distinção real entre si,
e o termo “relação” para designar o fato de a distinção entre eles residir na
referência de uns aos outros.
Santidade de Deus 21
O DOGMA DA
SANTÍSSIMA TRINDADE
A Santíssima
Trindade é Uma. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três
pessoas: “a Trindade consubstancial”. As pessoas divinas não dividem entre si a
única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: “O Pai é aquilo que é o
Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e
o Filho, isto é, um só Deus quanto à natureza”. Cada uma das três pessoas é
esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina”.
As pessoas divinas são realmente distintas
entre si. “Deus é único, mas não solitário”. “Pai”, “Filho”, “Espírito
Santo” não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois
são realmente distintos entre si: “Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele
que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o
Filho”. São distintos entre si pelas suas relações de origem: É o Pai que gera,
o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede”. A Unida de divina é
Trina.
As pessoas divinas são relativas umas às
outras. Por não dividir a unidade divina, a distinção real das pessoas
entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras: “Nos
nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito
Santo aos dois; quando se fala destas três pessoas considerando as relações,
crê-se todavia em uma só natureza ou substância”. Pois “tudo é uno [neles] lá onde não se
encontra a oposição de relação”. “Por causa desta unidade, o Pai está todo
inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo
inteiro no Pai, todo inteiro no Filho”.
Aos catecúmenos de Constantinopla, S. Gregório Nazianzeno, denominado
também, “o Teólogo”, confia o seguinte resumo da fé trinitária:
Antes de todas as coisas, conservai-me este
bom depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz
suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de
fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É por ela que
daqui a pouco vou mergulhar-vos na água e vos tirar dela. Eu vo-la dou como
companheira e dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Poder, que
existe Uma nos Três, e que contém os Três de uma maneira distinta. Divindade
sem diferença de substância ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau
inferior que rebaixe... A infinita conaturalidade é de três infinitos. Cada um
considerado em si mesmo é Deus todo inteiro... Deus os Três considerados
juntos. Nem comecei a pensar na Unidade, e a Trindade me banha no seu
esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, e a Unidade toma conta de mim.
Santidade de Deus 22
IV. AS OBRAS DIVINAS E AS MISSÕES TRINITÁRIAS
“O lux, beata Trinitas et principalis Unitas – Ó luz, Trindade bendita.
Ó primordial Unidade”! Deus é beatitude eterna, vida imortal, luz sem ocaso.
Deus é amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Livremente Deus quer comunicar a
glória da sua vida bem-aventurada. Este é o “desígnio” de benevolência (Ef 1,9)
que ele concebeu desde antes da criação do mundo no seu Filho bem-amado,
“predestinando-nos à adoção filial neste” (Ef 1,4-5), isto é, “a reproduzir a
imagem do seu Filho” (Rm 8,29) graças ao ‘Espírito de adoção filial” (Rm 8,15).
Esta decisão prévia é proveniente diretamente do amor trinitário. Ele se desdobra
na obra da criação, em toda história da salvação após a queda, nas missões do
Filho e do Espírito, prolongadas pela missão da Igreja.
Toda economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Pois da
mesma forma que a Trindade não tem senão uma única e mesma operação. “O Pai, o
Filho e o Espírito Santo não são três princípios das criaturas, mas um só
princípio. Contudo, cada pessoa divina opera a obra comum segundo a sua
propriedade pessoal. Assim a Igreja confessa, na linha do Novo Testamento: Um
Deus e Pai do qual são todas as coisas, um Senhor Jesus Cristo para quem são
todas as coisas, um Espírito Santo em quem são todas as coisas”. São sobretudo
as missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que
manifestam as propriedades das pessoas divinas.
Obra ao mesmo tempo comum e pessoal, toda a Economia divina dá a
conhecer tanto a propriedade das pessoas divinas como a sua única natureza.
Outrossim, toda a vida cristã é comunhão com cada uma das pessoas divinas, sem
de modo algum separá-las. Quem rende glória ao Pai o faz pelo Filho no Espírito
Santo; quem segue a Cristo, o faz porque o Pai o atrai e o Espírito o
impulsiona.
Santidade de Deus 23
Santidade de Deus 23
O fim último de toda a Economia divina é a entrada das criaturas na
unidade perfeita da Santíssima Trindade. Mas desde já somos chamados a ser
habitados pela Santíssima Trindade: “Se alguém me ama – diz o Senhor – guardará
a minha palavra, e meu Pai o amará e viremos a ele, e faremos nele a nossa
morada” (Jo 14,23):
Ó meu Deus,
Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para firmar-me em Vós,
imóvel e pacífico, como se a minha alma já estivesse na eternidade: que nada
consiga perturbar a minha paz nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que
cada minuto me leve mais longe na profundidade do vosso Mistério! Pacificai a
minha alma! Fazei dela o vosso céu, vossa amada morada e o lugar do vosso
repouso. Que nela eu nunca vos deixe só, mas que eu esteja aí, toda inteira,
completamente vigilante na minha fé, toda adorante, toda entregue à vossa ação
criadora.
RESUMINDO
O Mistério
da Santíssima é o mistério central da fé e da vida cristã. Só Deus no-lo pode
dar a conhecer, revelando-se como Pai , Filho e Espírito Santo.
A Encarnação do Filho de Deus revela que Deus
é o Pai eterno, e que o Filho é consubstancial ao Pai, isto é, que ele é no Pai
e com o Pai o mesmo Deus único.
A missão do Espírito Santo, enviado pelo Pai
em nome do Filho e pelo Filho “de junto do Pai” (Jo 15,26), revela que o
Espírito é com eles o mesmo Deus único. “Com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado”.
“O Espírito Santo procede do Pai enquanto
fonte primeira e, pela doação eterna deste último ao Filho, do Pai e do Filho
em comunhão”.
Pela graça do Batismo “em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo”, somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima
Trindade, aqui na terra na obscuridade da fé, e para além da morte, na luz
eterna.
A fé católica é esta: que veneremos o único
Deus na Trindade, e a Trindade na unidade, não confundindo as pessoas, nem
separando a substância: pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a
do Espírito Santo; mas uma só é a divindade do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, igual a glória, co-eterna a majestade”. Inseparáveis naquilo que são, as
pessoas divinas são também inseparáveis naquilo que fazem. Mas na única
operação divina cada uma delas manifesta o que lhe é próprio na Trindade,
sobretudo nas missões divinas da Encarnação do filho e do dom do espírito
Santo.
Santidade de Deus 24
PARÁGRAFO 3
O TODO-PODEROSO
De todos os atributos divinos, só a onipotência de Deus é mencionada no
Símbolo: confessá-la é de grande importância para nossa vida. Nós cremos que
ela é universal, pois Deus, que criou tudo, governa tudo e pode tudo; é
também de amor, pois Deus é nosso Pai; e é misteriosa, pois
somente a fé é capaz de discerni-la “pois é na fraqueza que a força manifesta
todo seu poder” (2Cor 12,9).
“ELE FAZ TUDO O
QUE QUER” (Sl 115,3)
As Sagradas
Escrituras professam reiteradas vezes o poder universal de Deus. ele é chamado
“o Poderoso de Jacó” (Gn 49,24; Is 1,24), “”o Senhor dos Exércitos”, “o Forte,
o Valente” (Sl 24,8-10). Se Deus é todo-poderoso “no céu e na terra” (Sl
135,6), é porque os fez. Por isso, nada lhe é impossível, e ele dispõe à
vontade da sua obra; Ele é o Senhor do universo, cuja ordem estabeleceu, ordem
esta que lhe permaneça inteiramente submissa e disponível; ele é o Senhor da
história: ele governa os corações e os acontecimentos à vontade. “Teu grande
poder está sempre a teu serviço, e quem pode resistir à força do teu braço?”
(Sb 11,21).
“TU TE COMPADECES DE TODOS, PORQUE
TUDO PODES” (Sb 11,23)
Deus é o Pai todo-poderoso. Sua paternidade e seu poder
iluminam-se mutuamente. Com efeito, ele mostra a sua onipotência paternal pela
maneira como cuida das nossas necessidades, pela adoção filial que nos outorga
(“Serei para vós um pai, e sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor
todo-poderoso”: 2Cor 6,18), e finalmente pela sua misericórdia infinita, pois
mostra o seu poder no mais alto grau perdoando livremente os pecados.
Santidade de Deus 25
Santidade de Deus 25
A onipotência divina de modo algum é arbitrária. “Em Deus o poder e a
essência, a vontade e a inteligência, a sabedoria e a justiça são uma só e
mesma coisa, de sorte que nada pode estar no poder divino, que não possa estar
na vontade justa de Deus ou na sua inteligência sábia”.
O MISTÉRIO DA
APARENTE IMPOTENCIA DE DEUS
A fé em Deus Pai todo-poderoso pode ser posta à prova pela experiência
do mal e do sofrimento. Por vezes Deus pode parecer ausente e incapaz de
impedir o mal. Ora, Deus Pai revelou a sua onipotência da maneira mais misteriosa
no rebaixamento voluntário e na Ressurreição de seu Filho, pelos quais venceu o
mal. Assim, Cristo crucificado é “poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que
é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é
mais forte do que os homens” (1Cor 1,24-25). Foi na Ressurreição e na exaltação
de Cristo que o Pai “desdobrou o vigor da sua força” e manifestou “que
extraordinária grandeza reveste o seu poder para nós os que cremos” (Ef 1,19-22).
Somente a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da onipotência de
Deus. Esta fé gloria-se das suas fraquezas a fim de atrair sobre si o poder de
Cristo. Desta fé, a Virgem Maria é o modelo supremo, ela que acreditou que
“nada é impossível a Deus” (Lc 1,37) e que pôde engrandecer o Senhor. “O
Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor, seu nome é Santo” (Lc 1,49).
“Por isso, nada é mais adequado para consolidar a nossa fé e a nossa
esperança do que a convicção profundamente gravada nas nossas almas de que nada
é impossível a Deus. Pois tudo o que (o credo) a seguir nos proporá a crer – as
maiores coisas, as mais incompreensíveis, bem como as que mais ultrapassam as
leis ordinárias da natureza – desde que a nossa razão tenha pelo menos idéia da
onipotência divina, ela as admitirá facilmente e sem qualquer hesitação”.
Santidade de Deus 26
Santidade de Deus 26
RESUMINDO
Juntamente
com Jó, o justo, nós confessamos: “Reconheço que tudo podes e que nenhum dos
teus desígnios fica frustrado” (Jó 42,2).
Fiel ao
testemunho da Escritura, a Igreja dirige com freqüência sua prece ao “Deus
todo-poderoso e eterno”, crendo firmemente que “nada é impossível a Deus” (Gn
18,14; Lc 1,37; Mt 19,26).
Deus
manifesta a sua onipotência convertendo-nos dos nossos pecados e
restabelecendo-nos na sua amizade pela graça - “Ó Deus, que manifestais o vosso
poder sobretudo na misericórdia...”.
Se não
cremos que o Amor de Deus é todo-poderoso, como crer que o Pai pôde nos criar,
o Filho, remir-nos, o Espírito, santificar-nos?
PARÁGRAFO 4
O CRIADOR
“No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). Com essas solenes
palavras inicia a Sagrada Escritura. O Símbolo da fé retoma estas palavras
confessando Deus Pai todo-poderoso como “o Criador do céu e da terra”, “de
todas as coisas visíveis e invisíveis”. Por isso, falaremos primeiro do
Criador, em seguida da sua criação, e finalmente da queda do pecado, do qual
Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio resgatar-nos.
A criação é o fundamento de “todos os desígnios salvíficos de
Deus”, “o começo da história da salvação” que culmina em Cristo. Inversamente,
o mistério de Cristo é a luz decisiva sobre o mistério da criação; ele revela o
fim em vista do qual “no princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1): desde
o início, Deus tinha em vista a glória da nova criação em Cristo.
É por isso
que as leituras da Vigília Pascal, celebração da criação nova em Cristo,
começam pelo relato da criação; da mesma forma, na liturgia bizantina, o relato
da criação constitui sempre a primeira leitura das vigílias das grandes festas
do Senhor. Segundo o testemunho dos antigos, a instrução dos catecúmenos para o
batismo segue o mesmo caminho.
Santidade de Deus 27
I. A CATEQUESE SOBRE A CRIAÇÃO
A catequese sobre a criação se reveste de uma importância capital. Ela
diz respeito aos próprios fundamentos da vida humana e cristã: pois explicita a
resposta da fé cristã à pergunta elementar feita pelos homens de todas as
épocas: “ De onde viemos?” “Para onde vamos?” “Qual é a nossa origem?” “Qual é
a nossa meta?” “Donde vem e para onde vai tudo o que existe?” As duas questões,
a da origem e a do fim, são inseparáveis. São decisivas para o sentido e a
orientação da nossa vida e do nosso agir.
A questão
das origens do mundo e do homem é objeto de numerosas pesquisas científicas que
enriqueceram magnificamente os nossos conhecimentos sobre a idade e as
dimensões do cosmo, o devir das formas vivas, o aparecimento do homem. Estas
descobertas nos convidam a admirar tanto mais a grandeza do Criador, a
render-lhe graças por todas as suas obras e pela inteligência e a sabedoria que
dá aos estudiosos e aos pesquisadores. Com Salomão, estes últimos podem dizer:
“Ele me deu um conhecimento infalível dos seres para entender a estrutura do
mundo, a atividade dos elementos... pois a Sabedoria, artífice do mundo, mo ensinou”
(Sb 7, 17-21).
O grande
interesse reservado a essas pesquisas é fortemente estimulado por uma questão
de outra ordem, e que ultrapassa o âmbito próprio das ciências naturais. Não se
trata somente de saber quando e como surgiu materialmente o cosmo, nem quando o
homem apareceu, mas antes, de descobrir qual é o sentido de tal origem: se ela
é governada pelo acaso, um destino cego, uma necessidade anônima, ou por um Ser
transcendente, inteligente e bom, chamado Deus. E se o mundo provém da
sabedoria e da bondade de Deus, por que existe o mal? Donde vem? Quem é o
responsável por ele? E haverá como libertar-se dele?
Desde os
inícios, a fé cristã tem-se confrontado com respostas diferentes da sua, no que
diz respeito à questão das origens. Assim, encontram-se nas religiões e nas
culturas antigas com numerosos mitos acerca das origens. Certos filósofos
afirmam que tudo é Deus, que o mundo é Deus, ou que o devir do mundo é o devir
de Deus (panteísmo);
Santidade de Deus 28
outros afirmam que o mundo ´é uma emanação necessária de Deus, emanação esta que deriva dessa fonte e volta a ela; outros ainda afirmam a existência de dois princípios eternos, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, em luta permanente entre si (dualismo, maniqueísmo); segundo algumas dessas concepções, o mundo (pelo menos o mundo material) seria mau, produto de uma queda e portanto deve ser rejeitado ou superado (gnose); ouros admitem que o mundo tenha sido feito por Deus, mas à maneira de um relojoeiro que, uma vez terminado o serviço, o teria abandonado a si mesmo (deísmo); outros, finalmente, não aceitam nenhuma origem transcendente do mundo, vendo neste o mero jogo de uma matéria que teria existido sempre (materialismo). Todas essas tentativas dão prova da permanência e da universalidade da questão das origens. Esta busca é própria do homem.
Santidade de Deus 28
outros afirmam que o mundo ´é uma emanação necessária de Deus, emanação esta que deriva dessa fonte e volta a ela; outros ainda afirmam a existência de dois princípios eternos, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, em luta permanente entre si (dualismo, maniqueísmo); segundo algumas dessas concepções, o mundo (pelo menos o mundo material) seria mau, produto de uma queda e portanto deve ser rejeitado ou superado (gnose); ouros admitem que o mundo tenha sido feito por Deus, mas à maneira de um relojoeiro que, uma vez terminado o serviço, o teria abandonado a si mesmo (deísmo); outros, finalmente, não aceitam nenhuma origem transcendente do mundo, vendo neste o mero jogo de uma matéria que teria existido sempre (materialismo). Todas essas tentativas dão prova da permanência e da universalidade da questão das origens. Esta busca é própria do homem.
Sem dúvida, a inteligência humana já pode encontrar uma resposta para a
questão das origens. Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser
conhecida com certeza através das suas obras, graças à luz da razão humana,
ainda que este conhecimento seja muitas vezes obscurecido e desfigurado pelo
erro. É por isso que a fé vem confirmar e iluminar a razão na compreensão
correta desta verdade: “Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram
organizados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem a
sua origem em coisas manifestas” (Hb 11,3).
A verdade da criação é tão importante para toda a vida humana que Deus,
na sua ternura, quis revelar a seu Povo tudo o que é salutar que se conheça a
este respeito. Para além do conhecimento natural que todo homem pode ter do
Criador, Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da criação. Ele, que
escolheu os patriarcas, que fez Israel sair do Egito, e que, ao escolher
Israel, o criou e o formou, se revela como Aquele a quem pertencem todos os
povos da terra, e a terra inteira, como o único que “fez o céu e a terra” (Sl
115,15; 124,8; 134,3).
Assim, a revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da Aliança de Deus, o Único, com o
seu povo. A criação é revelada como sendo o primeiro passo rumo a esta Aliança,
como o testemunho primeiro e universal do amor todo-poderoso de Deus. Por isso
a verdade da criação se exprime com um vigor crescente na mensagem dos
profetas, na oração dos salmos e da liturgia, na reflexão da sabedoria do Povo
eleito.
Santidade de Deus 29
Santidade de Deus 29
Entre todas as palavras da Sagrada Escritura sobre a criação, os três
primeiros capítulos do Gênesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista
literário, esses textos podem ter diversas fontes. Os autores inspirados os
puseram no começo da escritura, de sorte que eles exprimem, na sua linguagem
solene, as verdades da criação, da origem e do fim desta em Deus, da sua ordem
e da sua bondade, da vocação do homem, e finalmente do drama do pecado e da
esperança da salvação. Lidas à luz de Cristo, essa unidade da Sagrada Escritura
e na Tradição viva da igreja, essas palavras são a fonte principal para a
catequese dos Mistérios do “princípio”: criação, queda, promessa da salvação.
II. A CRIAÇAO – OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
“No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). Três coisas são
afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a
tudo o que existe fora dele. Só ele é Criador (o verbo “criar” – em hebraico
“bara” – sempre tem como sujeito a Deus). Tudo o que existe (expresso pela
fórmula “o céu e a terra”) depende daquele que lhe dá o ser.
“No princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... tudo foi feito por
ele, e sem ele nada foi feito” (Jo 1,1-3). O Novo Testamento revela que Deus
criou tudo através do Verbo Eterno, seu Filho bem amado. Foi nele “ que foram
criadas todas as coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para
Ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste” Cl 1,16-17). A fé da Igreja
afirma outrossim a ação criadora do Espírito Santo: Ele é o “doador da vida”,
“o Espírito Criador”, “a fonte de todo bem”.
Insinuada no Antigo Testamento, revelada na Nova Aliança, a ação
criadora do Filho e do Espírito, inseparavelmente uma com a do Pai, é
claramente afirmada pela regra de fé da Igreja: “Só existe um Deus...: ele é o
Pai, é Deus, é o Criador, é o autor, é o Ordenador. Ele fez todas as coisas por
si mesmo, isto é, pelo seu Verbo e Sabedoria”, “pelo Filho e pelo
Espírito”, que são como que suas mãos. A criação é a obra comum da Santíssima
Trindade.
Santidade de Deus 30
III. “O MUNDO FOI CRIADO PARA A GLÓRIA DE DEUS”
Eis uma verdade fundamental que a Escritura e a Tradição não cessam de
ensinar e de celebrar: “O mundo foi criado para a glória de Deus”. Deus criou
todas as coisas, explica S. Boaventura, “não para aumentar a [sua] glória, mas
para manifestar a glória e para comunicar a sua glória”. Pois Deus não tem
outra razão para criar a não ser o seu
amor e a sua bondade: “Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram”.
E o Concilio Vaticano I explica:
Este único e
verdadeiro Deus, por sua bondade e por sua “virtude onipotente’, não para
adquirir nova felicidade ou para aumenta-la, mas a fim de manifestar a sua
perfeição pelos bens que prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente
livre, criou simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a
espiritual e a corporal.
A glória de Deus consiste em que realize esta manifestação e esta
comunicação da sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós
“filhos adotivos por Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para
louvor à glória da sua graça” (Ef 1,5-6): “Pois a glória de Deus é o homem
vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se já a revelação de Deus através da
criação proporcionou a vida a todos ao seres que vivem na terra, quanto mais a
manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que vêem a Deus”. O
fim último da criação, é que Deus, “Criador do universo, tornar-se-á ‘tudo em
todas as coisas’ (lCor 15,28), ao mesmo tempo a sua glória e a sua felicidade”.
Santidade de Deus 31
IV. O MISTÉRIO DA CRIAÇÃO
DEUS CRIA POR
SABEDORIA E POR AMOR
Cremos que Deus criou o mundo segundo a sua sabedoria. O mundo não é o
produto de uma necessidade qualquer, de um destino cego ou do acaso. Cremos que
o mundo procede da vontade livre de Deus que quis fazer as criaturas
participarem do seu ser, da sua sabedoria e da sua bondade: “Pois tu criastes
todas as coisas; por tua vontade elas não existiam e foram criadas” (Ap 4,11).
“Quão numerosas são as tuas obras, Senhor, e todos fizeste com sabedoria!” (Sl
104,24). “O Senhor é bom para todos, compassivo com todas as suas obras” (Sl
145,9).
DEUS CRIA “DO
NADA”
Cremos que Deus
não precisa de nada preexistente nem de nenhuma ajuda para criar. A criação
também não é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente
“do nada”:
Que haveria de extraordinário se Deus tivesse
tirado o mundo de uma matéria preexistente? Um artífice humano, quando se lhe
dá um material, faz dele tudo o que quiser. Ao passo que o poder de Deus se
mostra precisamente quando parte do nada para fazer tudo o que quer.
A fé na criação a
partir “do nada” é atestada na Escritura como uma verdade cheia de promessa e
de esperança. Assim, a mãe dos sete filhos os encoraja ao martírio:
Não sei como é que viestes aparecer no meu
seio, nem fui eu que vos dei o espírito e a vida, nem também fui eu que dispus
organicamente os elementos de cada um de vós. Por conseguinte, foi o Criador do
mundo que formou o homem em seu nascimento e deu origem a todas as coisas, quem
vos retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida , uma vez que agora
fazeis pouco caso de vós mesmos, por amor às leis dele... Eu te suplico, meu
filho, contempla o céu e a terra e observa tudo o que neles existe. Reconhece
que não foi de coisas existentes que Deus os fez, e que também o gênero humano
surgiu da mesma forma (2Mc 7,22-23.28).
Santidade de Deus 32
Uma vez que Deus pôde criar do nada, pode, pelo Espírito Santo, dar a
vida da alma a pecadores, criando neles um coração puro, e a vida dos corpos
aos falecidos, pela ressurreição, ele “que faz viver os mortos e chama à
existência as coisas que não existem” (Rm 4,17). E uma vez que, pela sua
Palavra, pôde fazer resplandecer a luz a partir das trevas, pode também dar a
luz da fé àqueles que a desconhecem.
DEUS CRIA UM
MUNDO ORDENADO E BOM
Já que Deus cria
com sabedoria, a criação é ordenada: “Tu dispuseste tudo com medida, número e
peso” (Sb 11,20). Feita no e através do Verbo eterno, “imagem do Deus
invisível” (Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem, imagem de
Deus, chamado a uma relação pessoal com Deus. Nossa inteligência, que participa
da luz do intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz pela sua criação,
sem dúvida não sem grande esforço e num espírito de humildade e de respeito
diante do Criador e da sua obra. Originada da bondade divina, a criação
participa desta bondade: “E Deus viu que isso era bom... muito bom” (Gn
1,4.10.12.18.21.31). Pois a criação é querida por Deus como um dom dirigido ao
homem, como uma herança que lhe é destinada e confiada. Repetidas vezes a
igreja teve que defender a bondade da criação, inclusive do mundo material.
DEUS TRANSCENDE A
CRIAÇÃO E ESTÁ PRESENTE A ELA
Deus é
infinitamente maior do que todas as suas obras: “Sua majestade é mais alta do
que os céus” (Sl 8,2), “é incalculável a sua grandeza” (Sl 145,3). Mas por ser
o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo o que existe, ele está
presente no mais íntimo das suas criaturas: “Nele vivemos, nos movemos e
existimos” (At 17,28). Segundo as palavras de Sto. Agostinho, ele é “maior do
que o que há de maior em mim e mais íntimo do que há de mais íntimo em mim”.
Santidade de Deus 33
DEUS MANTÉM E SUSTENTA A CRIAÇÃO
Com a criação,
Deus não abandona a sua criatura a ela mesma. Não somente lhe dá o ser e a
existência, mas também a sustenta a todo instante no ser, dá-lhe o dom de agir
e a conduz a seu termo. Reconhecer esta dependência completa em relação ao
Criador é uma fonte de sabedoria e liberdade, alegria e confiança:
Sim, tu amas tudo o que criaste, não te
aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a
terias feito. E como poderia subsistir alguma coisa, se não a tivesses querido?
Como conservaria a sua existência, se não a tivesses chamado? Mas a todos
perdoas, porque são teus: Senhor, amigo da vida! (Sb 11,24-26).
V. DEUS REALIZA O SEU PROJETO: A DIVINA PROVIDENCIA
A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu
completamente acabada das mãos do Criador. Ela é criada “em estado de
caminhada” para uma perfeição última a ser ainda atingida, para a qual Deus a
destinou. Chamamos de divina providência as disposições pelas quais Deus conduz
a sua criação para esta perfeição:
Deus conserva e governa com sua providência
tudo o que criou, ela se estende “com vigor de um extremo ao outro e governa o
universo com suavidade” (Sb 8,1). Pois “tudo está nu e descoberto aos seus
olhos” (Hb 4,13), mesmo os atos dependentes da ação livre das criaturas.
O testemunho da Escritura é unânime: A solicitude da divina providência
é concreta e direta, toma cuidado de tudo, desde as mínimas coisas até
os grandes acontecimentos do mundo e da história. Com vigor os livros sagrados
afirmam a soberania absoluta de Deus no curso dos acontecimentos: “O nosso Deus
está no céu e faz tudo o que deseja” (Sl 115,3); e de Cristo se diz: “O que
abre e ninguém mais fecha, e fechando, ninguém mais abre” (Ap 3,7). “Muitos são
os projetos do coração humano, mas é o desígnio do Senhor que permanece firme”
(Pr 19,21).
Santidade de Deus 34
Assim vemos
o Espírito Santo, autor principal da Escritura, atribuir muitas vezes ações a
Deus, sem mencionar causas segundas. Esta não é uma “maneira de falar”
primitiva, mas uma forma profunda de lembrar o primado de Deus e o seu senhorio
absoluto sobre a história e o mundo e de assim educar para a confiança nele. A
oração dos Salmos é a grande escola desta confiança.
Jesus pede uma entrega filial à providência do Pai Celeste que cuida das
mínimas necessidades dos seus filhos: “Por isso, não andeis preocupados,
dizendo: Que iremos comer? Ou, que iremos beber?... Vosso Pai celeste sabe que
tendes necessidade de todas essas coisas. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de
Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt
6,31-33).
A PROVIDÊNCIA E
AS CAUSAS SEGUNDAS
Deus é o Mestre soberano dos seus desígnios. Mas para a realização dos
mesmos, serve-se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de
fraqueza, mas de grandeza e da bondade de Deus todo-poderoso. Pois Deus não
somente dá às suas criaturas o existir, mas também a dignidade de agirem elas
mesmas, de serem causas e princípios umas das outras e de assim cooperarem no
cumprimento do seu desígnio.
Aos homens, Deus concede até participar livremente da sua providência,
confiando-lhes a responsabilidade de “submeter” a terra e de domina-la. Deus
concede assim aos homens serem causas inteligentes e livres para completar a
obra da Criação, aperfeiçoar-lhe a harmonia para o bem deles e dos seus
próximos. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens
podem entrar deliberadamente no plano divino, pelas suas ações, pelas suas
orações, mas também pelos seus sofrimentos. Tornam-se então plenamente
“cooperadores de Deus” (1Cr 3,9; 1Ts 3,2) e do seu Reino.
Eis uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em todo o
agir das suas criaturas. E é a causa primeira que opera nas causas segundas e
através delas: “Pois é Deus quem opera em vós o querer e o operar, segundo a
sua vontade” (Fl 2,13).
Santidade de Deus 35
Longe de diminuir a dignidade da criatura, esta verdade a realça. Tirada do nada pelo poder, sabedoria e bondade de Deus, a criatura não pode nada se for cortada da sua origem, pois “a criatura sem o Criador se esvai”; muito menos pode atingir o seu fim último sem a ajuda da graça.
Santidade de Deus 35
Longe de diminuir a dignidade da criatura, esta verdade a realça. Tirada do nada pelo poder, sabedoria e bondade de Deus, a criatura não pode nada se for cortada da sua origem, pois “a criatura sem o Criador se esvai”; muito menos pode atingir o seu fim último sem a ajuda da graça.
A PROVIDÊNCIA E O
ESCÂNDALO DO MAL
Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de
todas as suas criaturas, por que então o mal existe? Para esta pergunta tão
premente quão inevitável, tão dolorosa quanto misteriosa, não há uma resposta
rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta pergunta: a
bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que se antecipa
ao homem pelas suas Alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom
do Espírito, pelo congraçamento da Igreja, pela força dos sacramentos, pelo
chamado a uma vida bem-aventurada à qual as criaturas livres são convidadas
antecipadamente a assentir, mas da qual podem, por um terrível mistério, abrir
mão também antecipadamente. Não há nenhum elemento da mensagem cristã que
não seja, por uma parte, uma resposta à questão do mal.
Mas por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não possa
existir mal algum? Segundo o seu poder infinito, Deus sempre poderia criar algo
de melhor. Todavia, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente
criar um mundo “em estado de caminhada” para a sua perfeição última. Este devir
comporta, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de determinados
seres, também o desaparecimento de outros, juntamente com o mais perfeito
também o menos imperfeito, juntamente com as construções da natureza também as
destruições. Juntamente com o bem físico existe, portanto, o mal físico,
enquanto a criação não houver atingido a sua perfeição.
Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar
para o seu destino último por opção livre e amor preferencial. Podem, no
entanto, desviar-se. E, de fato, pecaram.
Santidade de Deus 36
Foi assim que o mal moral entrou no mundo, incomensuravelmente mais grave do que o mal físico. Deus não é de modo algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal moral. Todavia permite-o, respeitando a liberdade da sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele o bem:
Santidade de Deus 36
Foi assim que o mal moral entrou no mundo, incomensuravelmente mais grave do que o mal físico. Deus não é de modo algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal moral. Todavia permite-o, respeitando a liberdade da sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele o bem:
Pois o Deus todo-poderoso..., por ser
soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir nas suas obras se não
fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal.
Assim, com o
passar do tempo, pode-se descobrir que Deus, na sua providência todo-poderosa,
pode extrair um bem das conseqüências e um mal, mesmo moral, causado pelas suas
criaturas: “Não fostes vós, diz José a seus irmãos, que me enviastes para cá,
foi Deus; ... o mal que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o
mudou em bem a fim de ... salvar a vida de um povo numeroso” (Gn 45,8; 50,20).
Do maior mal moral jamais cometido, a saber, a rejeição e o homicídio do Filho
de Deus, causado pelo pecado em todos os homens, Deus, pela superabundância da
sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa Redenção.
Com isso, porém, o mal não se converte em um bem.
“Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,28). O
testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade:
Assim, Sta. Catarina de Sena diz “àqueles que
se escandalizam e se revoltam com o que lhes acontece”: “Tudo procede do amor,
tudo está ordenado à salvação do homem, Deus não faz nada que não seja para
esta finalidade”.
E Sto. Tomás More, pouco antes de seu martírio,
consola sua filha: “Não pode acontecer nada que Deus não tenha querido. Ora,
tudo o que ele quer, por pior que possa parecer-nos, é o que há de melhor para
nós”.
E Lady
Julian de Norwich: “Aprendi, portanto, pela graça de Deus, que era preciso
apegar-me com firmeza à fé, e crer com não menor firmeza que todas as coisas
irão bem...”. ‘Tu mesma verás que qualquer tipo de circunstância servirá para o
bem’ ”.
Santidade de Deus 37
Cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Mas os caminhos da sua providência muitas vezes nos são desconhecidos. Só no final, quando acabar o nosso conhecimento parcial, quando virmos Deus “face a face” (1Cor 13,12), teremos pleno conhecimento dos caminhos pelos quais, mesmo através dos dramas do mal e do pecado, Deus terá conduzido a sua criação até o descanso desse Sábado definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.
RESUMINDO
Na criação do mundo e dos homens, Deus colocou o
primeiro e universal testemunho do seu amor todo-poderoso e da sua sabedoria, o
primeiro anúncio do seu “desígnio benevolente”, o qual encontra sua meta na
nova criação em Cristo.
Embora a
obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente verdade de
fé que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível princípio da
criação.
Só Deus criou o universo, livremente, diretamente,
sem nenhuma ajuda.
Nenhuma
criatura tem o poder infinito que é necessário para “criar” no sentido próprio
da palavra, isto é, produzir e dar o ser àquilo que não o tinha de modo algum
(chamar à existência).
Deus criou o
mundo para manifestar e para comunicar a sua glória. Que as suas criaturas
participem da sua verdade, da sua bondade e da sua beleza, é a glória para a
qual Deus as criou.
Deus, que
criou o universo, o mantém na existência pelo seu Verbo, “este Filho que
sustenta o universo com o poder de sua palavra” (Hb 1,3) e pelo seu Espírito
Criador que dá a vida. A Divina Providência são as disposições pelas quais Deus
conduz com sabedoria e amor todas as criaturas até ao seu fim último.
Cristo
convida-nos à entrega filial à providência de nosso Pai celeste, e o apóstolo
S. Pedro lembra: “Lançai sobre ele toda a vossa preocupação, porque é ele que
cuida de vós”.
A
Providência divina age também através da ação das criaturas. Aos seres humanos
Deus concede cooperar livremente para os seus desígnios.
A permissão
divina do mal físico e do mal moral é um mistério que Deus ilumina pelo seu
Filho, Jesus Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal. A fé nos dá a
certeza de que Deus não permitiria o mal se do próprio mal não tirasse o bem,
por caminhos que só conheceremos plenamente na vida eterna.
Santidade de Deus 38
PARÁGRAFO 5
O CÉU E A TERRA
O Símbolo dos Apóstolos professa que Deus é ‘o Criador do céu e da
terra”, e o Símbolo niceno-constantinopolitano explicita:”... do universo
visível e invisível”.
Na Sagrada
Escritura, a expressão “céu e terra” significa: tudo aquilo que existe, a
criação inteira. Indica também o nexo, no interior da criação, que ao mesmo
tempo une e distingue céu e terra: “A terra é o mundo dos homens; “O céu” ou
“os céus” pode designar o firmamento, mas também o “lugar” próprio de Deus:
“nosso Pai nos céus” (Mt 5,16) e, por conseguinte, também o “céu” que é a
glória escatológica. Finalmente, a palavra “céu” indica o “lugar” das criaturas
espirituais – os anjos – cercam a Deus.
A profissão de fé do IV Concílio de Latrão afirma que Deus “criou
conjuntamente, do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a
espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a
criatura humana que tem algo de ambas, por compor-se de espírito e de corpo”.
I. OS ANJOS
A EXISTÊNCIA DOS
ANJOS – UMA VERDADE DE FÉ
A existência dos
seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente
de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro
quanto a unanimidade da tradição.
QUEM SÕ OS ANJOS?
Sto. Agostinho diz a respeito deles: “Anjo (mensageiro) é designação de
encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um
espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é,
enquanto é anjo, por aquilo que faz.
Santidade de Deus 39
Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. porque contemplam “constantemente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10), são poderosos executores da sua palavra” (Sl 103,20)
Santidade de Deus 39
Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. porque contemplam “constantemente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10), são poderosos executores da sua palavra” (Sl 103,20)
Enquanto criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e
de vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as
criaturas visível. Disto dá testemunho o fulgor de sua glória.
CRISTO “COM TODOS
OS SEUS ANJOS”
Cristo é o centro do mundo angélico. São os seus anjos: “Quando o Filho
do homem vier na sua glória com todos os seus anjos...” (Mt 25,31). São seus
porque criados por e para ele: “Pois foi nele que foram criadas todas as
coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações,
Principados, Potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele” (Cl 1,16). São
seus, mais ainda, porque ele os fez mensageiros do seu projeto de salvação.
“Porventura, não são todos eles espíritos servidores, enviados ao serviço dos
que devem herdar a salvação?” (Hb 1,14).
Eles aí estão, desde a criação, e ao longo de toda a História da
Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação, e servindo ao desígnio
divino da sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar
e seu filho, seguram a mão de Abraão, a lei é comunicada por ministério deles,
conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas,
para citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia
o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.
Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada
da adoração e do serviço dos anjos. Quando Deus “introduziu o Primogênito no
mundo, diz: ‘Adorem-no todos os anjos de Deus’” (Hb 1,6). O canto de louvor
deles ao nascimento de Cristo não cessou de ressoar no louvor da Igreja:
“Glória a Deus...” (Lc 2,14).
Santidade de Deus 40
Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora Israel. São ainda os anjos que “evangelizam” (Lc 2,10), anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam, a serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará.
Santidade de Deus 40
Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora Israel. São ainda os anjos que “evangelizam” (Lc 2,10), anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam, a serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará.
OS ANJOS NA VIDA
DA IGREJA
Do mesmo modo, a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e
poderosa dos anjos.
Na sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adorar o Deus três
vezes Santo; ela invoca a sua assistência (assim no – “Nós vos suplicamos...”
do Cânon Romano ou no – “Para o Paraíso te levem os anjos”, da Liturgia dos
defuntos, ou ainda no – “hino querubínico” da Liturgia bizantina), festa mais
particularmente a memória de certos anjos (S. Miguel, S. Gabriel, S. Rafael, os
anjos da guarda).
Desde a infância até a morte, a vida humana é cercada pela sua proteção
e pela sua intercessão. “Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor
para conduzi-lo à vida”. Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da
sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.
II. O MUNDO VISÍVEL
Foi Deus mesmo que
criou o mundo visível em toda a sua riqueza, diversidade e ordem. A Escritura
apresenta a obra do Criador simbolicamente como uma seqüência de seis dias “de
trabalho” divino que terminam com o “descanso” do sétimo dia. O texto sagrado
ensina, a respeito da criação, verdades reveladas por Deus para a nossa
salvação que permitem “reconhecer a natureza profunda da criação, seu valor e
sua finalidade, que é a glória de Deus”.
Santidade de Deus 41
Santidade de Deus 41
Não existe nada que não deva sua existência a
Deus criador. O mundo começou quando foi tirado do nada pela Palavra de
Deus; todos os seres existentes, toda a natureza, toda a história humana têm as
suas raízes neste acontecimento primordial: é a própria gênese pela qual o
mundo foi constituído, e o tempo começou.
Cada criatura possui sua bondade e sua
perfeição próprias. Para cada uma das obras dos “seis dias” se diz: “E Deus
viu que isto era bom”. Pela própria condição da criação, todas as coisas são
dotadas de fundamento próprio, verdade, bondade, leis e ordens específicas”. As
diferentes criaturas, queridas no seu próprio ser, refletem, cada uma a seu
modo, um raio de sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o
homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura para evitar um uso
desordenado das coisas, que menospreze o Criador e acarrete conseqüências
nefastas para os homens e seu meio ambiente.
A interdependência das criaturas é querida
por Deus. O sol e a lua, o cedro e a pequena flor, a águia e o pardal: as
inúmeras diversidades e desigualdades significam que nenhuma criatura se basta
a si mesma, que só existem em dependência recíproca, para se completarem
mutuamente, a serviço umas das outras.
A beleza do universo: A ordem e a
harmonia do mundo criado resultam da diversidade dos seres e das relações que
existem entre eles. O homem as descobrem progressivamente como leis da
natureza. Elas despertam a admiração dos sábios. A beleza da criação reflete a
infinita beleza do Criador. Ela deve inspirar o respeito e a submissão da
inteligência do homem e da sua vontade.
A hierarquia das criaturas é expressa
pela ordem dos “seis dias”, que vai do menos perfeito ao mais perfeito. Deus
ama todas as suas criaturas, cuida de cada uma, até mesmo dos pássaros. Apesar
disso, Jesus diz: “Vós valeis mais do que muitos pardais” (Lc 12,6-7), ou ainda: “Um homem vale muito
mais do que uma ovelha” (Mt 12,12).
Santidade de Deus 42
Santidade de Deus 42
O homem é píncaro da obra da criação. A narração bíblica exprime
isto distinguindo nitidamente a criação do homem da das outras criaturas.
Existe uma solidariedade entre todas as criaturas pelo fato de
terem todas o mesmo Criador, e de todas estarem ordenadas à sua glória:
Louvado
sejas, meu Senhor,
Com todas
as tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia
o dia e com tua luz nos alumia.
Louvado
sejas, meu Senhor,
Pela irmã
Água.
Que é muito
útil e humilde
E preciosa
e casta...
Louvado
sejas, meu Senhor,
Por nossa
irmã, a mãe terra,
Que nos
sustenta e governa,
E produz
frutos diversos
E coloridas
flores e ervas.
Louvai e
bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe
graças,
E servi-o
com grande humildade.
O Sábado – fim da obra dos “seis dias”. O texto sagrado diz que
“Deus concluiu no sétimo dia a obra que tinha feito”, e assim “o céu e a terra
foram terminados”, e no sétimo dia Deus “descansou”, e santificou e abençoou
este dia (Gn 2,1-3). Essas palavras inspiradas são ricas de ensinamentos
salutares:
Na criação Deus depositou um fundamento de
leis que permanecem estáveis, nos quais o crente poderá apoiar-se com
confiança, e que para ele serão o sinal e a garantia da fidelidade inabalável da
Aliança de Deus. Por sua parte, o homem deverá ficar fiel a este fundamento e
respeitar as leis que o Criador inscreveu nele.
A criação
está em função do Sábado e portanto do culto e da adoração de Deus. O culto
está inscrito na ordem da criação. “Nada se anteponha à obra de Deus”, diz a
regra de S. Bento, indicando assim a ordem correta das preocupações humanas.
O Sábado
constitui o coração da lei de Israel. Observar os mandamentos é corresponder à
sabedoria e à vontade de Deus expressa
na sua obra de criação.
Santidade de Deus 43
O oitavo dia. Mas para nós nasceu um dia novo: o dia da
Ressurreição de Cristo. O sétimo dia encerra a primeira criação. O oitavo dia
dá início à nova criação. Assim, a obra da criação culmina na obra maior da
redenção. A primeira criação encontra o seu sentido e o seu ponto culminante na
nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira.
RESUMINDO
Os anjos são
criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem aos seus
desígnios salvíficos em relação às demais criaturas: Os anjos cooperam para
todos os nossos bens.
Os anjos
cercam a Cristo, seu Senhor. Servem-no particularmente no cumprimento da sua
missão salvífica para com os homens.
A Igreja
venera os anjos que a ajudam na sua peregrinação terrestre e protegem cada ser
humano.
Deus quis a
diversidade das suas criaturas e a bondade própria delas, a sua
interdependência e ordem. Destinou todas as criaturas materiais ao bem do
gênero humano. O homem, e através dele a criação inteira, destina-se à glória de
Deus.
Respeitar as
leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é
princípio de sabedoria e fundamento da moral.
PARÁGRAFO 6
O HOMEM
“Deus criou o
homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” (Gn
1,27). O homem ocupa um lugar único na criação: ele é “à imagem de Deus” (I);
na sua própria natureza une o mundo espiritual e o mundo material (II); é
criado “homem e mulher” (III); Deus o estabeleceu na sua amizade (IV).
Santidade de Deus 44
I. “À IMAGEM DE DEUS”
De todas as criaturas visíveis, só o homem é “capaz de conhecer e amar o
seu Criador”; ele é “a única criatura da terra que Deus quis em si mesma”; só
ele é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e o amor, a vida de Deus. Foi
para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental da sua
dignidade:
Que motivo vos fez constituir o homem em
dignidade tão grande? O amor inestimável pelo qual enxergastes em vós mesmo a
vossa criatura, e vos apaixonastes por ela; pois foi por amor que as criastes,
foi por amor que lhe destes um ser capaz de degustar o vosso Bem eterno.
Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa:
ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de
possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é
chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta
de fé e de amor, que ninguém mais pode dar em seu lugar.
Deus criou tudo para o homem, mas o homem foi criado para servir e amar
a Deus e para oferecer-lhe toda a criação:
Quem é,
pois, o ser que vai vir à existência cercado de tal consideração? É um homem,
grande e admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que a
criação inteira: é o homem, é para ele que existem o céu e a terra e o mar e a
totalidade da criação, e é à salvação dele que Deus atribuiu tanta importância,
que nem sequer poupou seu Filho único em seu favor. Pois Deus não se cansou de
tudo empreender para fazer o homem subir até ele e fazê-lo sentar-se à sua
direita.
“Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no
mistério do Verbo Encarnado”:
São Paulo ensina-nos que dois homens estão
na origem do gênero humano: Adão e Cristo... “o primeiro Adão, diz ele, foi
criado como um ser humano que recebeu a vida; o segundo é um ser espiritual que
dá a vida”. O primeiro foi criado pelo segundo, de quem recebeu a alma que o
faz viver... O segundo Adão estabeleceu a sua imagem no primeiro Adão quando o
modelou. E assim se revestiu da natureza deste último e dele recebeu o nome, a
fim de não deixar perder aquilo que havia feito à sua imagem. Primeiro Adão,
segundo Adão: o primeiro começou, o segundo não acabará. Pois o segundo é
verdadeiramente o primeiro, como ele mesmo disse: “Eu sou o Primeiro e o
Último”.
Santidade de Deus 45
Graças à origem comum, o gênero humano forma uma unidade. Pois
Deus “de um só fez toda a raça humana” At 17,26):
Maravilhosa visão que nos faz contemplar o
gênero humano na unidade da sua origem em Deus..., na unidade da sua natureza,
composta igualmente em todos de um corpo material e de uma alma espiritual; na
unidade do seu fim imediato e da sua missão no mundo; na unidade do seu
habitat: a terra, de cujos bens todos os homens, por direito natural, podem
usar para sustentar e desenvolver a vida; na unidade do seu fim sobrenatural:
Deus mesmo, ao qual todos devem tender, na unidade dos meios para atingir este
fim; ... na unidade do seu resgate, operando em favor de todos por Cristo.
“Esta lei de solidariedade humana e de caridade”, sem excluir a rica
variedade das pessoas, das culturas e dos povos, nos garante que todos os
homens são verdadeiramente irmãos.
II. “CORPORE ET ANIMA
UNUS”
A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo
corporal e espiritual. O relato bíblico exprime esta realidade com uma
linguagem simbólica, ao afirmar que “O Senhor Deus modelou o homem com a argila
do solo, insuflou nas suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser
vivente” (Gn 2,7). Portanto, o homem na sua totalidade é querido por
Deus.
Muitas vezes o termo alma designa na Sagrada Escritura a vida
humana ou a pessoa humana inteira. Mas designa também o que há de mais
íntimo no homem e o que há nele de maior valor, aquilo que mais particularmente
o faz ser imagem de Deus: “alma” significa o princípio espiritual
no homem.
O corpo do homem participa da dignidade da “imagem de Deus”: ele
é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa
humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo de
Espírito:
Santidade de Deus 46
Unidade de corpo e de alma, o homem, por sua
própria condição corporal, sintetiza em si os elementos do mundo material, que
nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma voz de
louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao
contrário, deve estimar e honrar o seu corpo, porque criado por Deus e
destinado à Ressurreição no último dia.
A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a
alma como a “forma” do corpo; ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo
constituído de matéria é um corpo humano e vivo; o espírito e a matéria no
homem não são duas naturezas unidas, mas a união deles forma uma única
natureza.
A Igreja ensina que cada alma espiritual é diretamente criada por Deus –
não é “produzida” pelos pais – e é imortal: ela não perece quando da separação
do corpo na morte, e se unirá novamente ao corpo quando da ressurreição final.
Por vezes ocorre que a alma apareça distinta do espírito. Assim S. Paulo
ora para que nosso “ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo”, seja guardado
irrepreensível na Vinda do Senhor (Ts 5,23). A Igreja ensina que esta distinção
não introduz uma dualidade na alma. “Espírito” significa que o homem está ordenado
desde a sua criação para o seu fim sobrenatural, e que a sua alma é capaz de
ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.
A tradição espiritual da Igreja insiste também no coração, no
sentido bíblico de “fundo do ser” (Jr 31,33), onde a pessoa se decide ou não
por Deus.
III. “HOMEM E MULHER OS CRIOU”
IGUALDADE E
DIFERENÇA QUERIDAS POR DEUS
O homem e a mulher são criados, isto é, são queridos por Deus:
por um lado, em uma perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, e por outro,
no seu ser respectivo de homem e de mulher.
Santidade de Deus 47
“Ser homem”, “ser mulher” é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são criados em idêntica grande dignidade “ à imagem de Deus”. no seu “ser homem” e seu “ser mulher”, refletem a sabedoria e a bondade do Criador.
Santidade de Deus 47
“Ser homem”, “ser mulher” é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são criados em idêntica grande dignidade “ à imagem de Deus”. no seu “ser homem” e seu “ser mulher”, refletem a sabedoria e a bondade do Criador.
Deus não é de modo algum à imagem do homem.
Não é nem homem nem mulher. Deus é puro espírito, não havendo nele lugar para a
diferença dos sexos. Mas as “perfeições” do homem e da mulher refletem algo da
infinita perfeição de Deus: as de uma mãe e as de um pai e esposo.
“UM PARA O OUTRO”
– “UMA UNIDADE A DOIS”
Criados conjuntamente, Deus quer o homem e a mulher um para o
outro. A Palavra de Deus dá-nos a entender isto através de diversas passagens
do texto sagrado. “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que
lhe corresponda” (Gn 2,18). Nenhum dos animais pode ser este “vis-à-vis” do
varão (Gn 2,19-20). A mulher que Deus “modela” da costela tirada do varão e que
leva a ele provoca da parte do homem um grito de admiração, uma exclamação de
amor e de comunhão: “É osso de meus ossos e carne de minha carne” (Gn 2,23). O
homem descobre a mulher como um outro “eu”, da mesma humanidade.
O homem e a mulher são feitos “um para o outro”: não que Deus os tivesse
feito apenas “pela metade” e “incompletos”; criou-os para uma comunhão de
pessoas, na qual cada um dos dois pode ser “ajuda” para o outro, por serem ao
mesmo tempo iguais enquanto pessoas (“osso de meus ossos...”) e complementares
enquanto masculino e feminino. No matrimônio, Deus os une de maneira que,
formando “uma só carne” (Gn 2,24), possam transmitir a vida humana: “Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gn 1,28). Ao transmitirem a seus
descendentes a vida humana, o homem e a mulher, como esposos e pais, cooperam
de uma forma única na obra do Criador.
Santidade de Deus 48
Santidade de Deus 48
No desígnio de Deus, o homem e a mulher têm a vocação de “submeter”a
terra (Gn 1,28) como “intendentes” de Deus. Esta soberania não deve ser uma
dominação arbitrária e destrutiva. À imagem do Criador “que ama tudo o que
existe” (Sb 11,24), o homem e a mulher são chamados a participarem da
Providência divina em relação às demais criaturas. Daí a responsabilidade deles
face ao mundo que Deus lhes confiou.
IV. O HOMEM NO PARAÍSO
O primeiro homem não só foi
criado bom, mais também foi constituído em uma amizade com o seu Criador e em
uma tal harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava, que só serão
superadas pela glória da nova criação em Cristo.
Interpretando de maneira autêntica o simbolismo da linguagem bíblica à
luz do Novo Testamento e da Tradição, a Igreja ensina que os nossos primeiros
pais Adão e Eva foram constituídos em um estado “de santidade e de justiça original”.
Esta graça da santidade original era uma “participação da vida divina”.
Pela irradiação desta graça, todas as dimensões da vida do homem eram
fortalecidas. Enquanto permanecesse na intimidade divina, o homem não devia nem
morrer, nem sofrer. A harmonia interior da pessoa humana, a harmonia entre o
homem e a mulher, e finalmente a harmonia entre o primeiro casal e toda a
criação constituíam o estado denominado “justiça original”.
O “domínio” do mundo que Deus havia outorgado ao homem desde o início
realizava-se antes de tudo no próprio homem como domínio de si mesmo. O
homem estava intacto e ordenado em todo o seu ser, porque livre da tríplice
concupiscência que o submete aos prazeres dos sentidos, á cobiça dos bens
terrestres e à auto-afirmação contra os imperativos da razão.
O sinal da familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim.
Lá vive “para o cultivar e o guardar” (Gn 2,15): o trabalho não é uma
penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento
da criação visível.
É toda esta harmonia da justiça original, prevista para o homem pelo
desígnio de Deus, que será perdida pelo pecado dos nossos primeiros pais.
Santidade de Deus 49
RESUMINDO
“Pai Santo,
criastes o homem e a mulher à vossa imagem e lhes confiastes todo o universo,
para que servindo a Vós, seu Criador, dominassem toda criatura”.
O homem foi
predestinado a reproduzir a imagem do Filho de Deus feito homem – “imagem do
Deus invisível” (Cl 1,15) – a de que Cristo seja o primogênito de uma multidão
de irmãos e de irmãs.
O homem é
“unidade de corpo e de alma”. A doutrina da fé afirma que a alma espiritual e
imortal é criada diretamente por Deus.
“Deus não
criou o homem solitário. Desde o início. ‘Deus os criou varão e mulher’ (Gn
1,27). Esta união constituiu a primeira forma de comunhão de pessoas”.
A revelação
dá-nos a conhecer o estado de santidade e de justiça originais do homem e da
mulher antes do pecado: da amizade deles com Deus advinha a felicidade da
existência deles no Paraíso.
PARÁGRAFO 7
A QUEDA
Deus é
infinitamente bom e todas as suas obras são boas. Todavia, ninguém escapa à
experiência do sofrimento, dos males existentes na natureza – que aparecem como
ligados às limitações próprias das criaturas - , e sobretudo à questão do mal
moral. Donde vem o mal? “eu perguntava donde vem o mal, e não encontrava
saída”, diz Sto. Agostinho, e a sua própria busca sofrida não encontrará saída
a não ser na sua conversão ao Deus vivo. Pois “o mistério da iniqüidade” (2Ts
2,7) só se explica à luz do “Mistério da piedade” (1Tm 3,16). A revelação do
amor divino em Cristo manifestou ao mesmo tempo a extensão do mal e a
superabundância da graça. Precisamos, pois, abordar a questão da origem do mal
fixando o olhar da nossa fé naquele que, e só Ele, é o vencedor do mal.
Santidade de Deus 50
I. ONDE O PECADO ABUNDOU, A GRAÇA SUPERABUNDOU
A REALIDADE DO
PECADO
O pecado está presente na história do homem: seria inútil tentar
ignorá-lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes. Para tentarmos
compreender o que é o pecado, é preciso antes de tudo reconhecer a ligação
profunda do homem com Deus, pois fora desta relação o mal do pecado não é
desmascarado na sua verdadeira identidade de recusa e de oposição face a Deus,
embora continue a pesar sobre a vida do homem e sobre a história.
A realidade do pecado, e mais particularmente do pecado das origens, só
se entende à luz da Revelação divina. Sem o conhecimento que ela nos dá de Deus
não se pode reconhecer com clareza o pecado, sendo-se tentado a explicá-lo
unicamente como uma falta de crescimento, como uma fraqueza psicológica, um
erro, a conseqüência necessária de uma estrutura social inadequada, etc.
Somente à luz do desígnio de Deus sobre o homem compreende-se que o pecado é um
abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas para que possam amá-lo e
amar-se mutuamente.
O PECADO ORIGINAL
– UMA VERDADE ESSENCIAL DA FÉ
Com o progresso da Revelação é esclarecida também a realidade do pecado.
Embora o povo de Deus do Antigo Testamento tenha abordado a dor da condição
humana à luz da história da queda narrada no Gênesis, não era capaz de entender
o significado último desta história, que só se manifesta plenamente à luz da
Morte e da Ressurreição de Jesus Cristo. É preciso conhecer a Cristo como fonte
da graça para conhecer Adão como fonte do pecado. É o Espírito-Paráclito,
enviado por Cristo ressuscitado, que veio estabelecer “a culpabilidade do mundo
a respeito do pecado” (Jô 16,8), ao revelar Aquele que é o Redentor do mundo.
Santidade de Deus 51
Santidade de Deus 51
A doutrina do pecado original é por assim dizer “o reverso” da Boa
Noticia de que Jesus é o Salvador de todos os homens, de que todos têm
necessidade da salvação e de que a salvação é oferecida a todos graças a
Cristo. A Igreja, que tem o senso de Cristo, sabe perfeitamente que não se pode
atentar contra a revelação do pecado original sem atentar contra o mistério de
Cristo.
PARA LER O RELATO
DA QUEDA
O relato sobre a queda (Gn 3) utiliza uma linguagem feita de imagens,
mas afirma um acontecimento primordial, um fato que ocorreu no início da
história humana. A Revelação dá-nos a certeza de fé de que toda a história
humana está marcada pelo pecado original cometido livremente pelos nossos
primeiros pais.
II. A QUEDA DOS ANJOS
Por trás da opção de desobediência de nossos primeiros pais há uma voz
sedutora, que se opõe a Deus, e que, por inveja, os faz cair na morte. A
Escritura e a Tradição da Igreja vêem neste ser um anjo destronado, chamado
Satanás ou Diabo. A Igreja ensina que ele tinha sido anteriormente um anjo bom,
crido por Deus. “Com efeito, o Diabo e
outros demônios foram por Deus criados bons em (sua) natureza, mas se tornaram
maus por sua própria iniciativa”.
A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta “queda” consiste
na opção livre desses espíritos criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente
a Deus e o seu Reino. Temos um reflexo desta rebelião nas palavras do Tentador
ditas a nossos primeiros pais: “E vós sereis como deuses” (Gn 3,5). O Diabo é
“pecador desde o princípio” (1Jo, 3,8), “pai da mentira” (Jo 8,44).
É o caráter irrevogável da sua opção, e não uma deficiência da
infinita misericórdia divina, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser
perdoado. “Não existe arrependimento para eles depois da queda, como não existe
arrependimento para os homens após a morte”.
Santidade de Deus 52
Santidade de Deus 52
A
Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama de “o homicida
desde o princípio” (Jo 8,44), e que até chegou a tentar desviar Jesus da sua
missão recebida do Pai. “Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para
destruir as obras do Diabo” (1Jo 3,9). A mais grave dessas obras, devido às
suas conseqüências, foi a sedução mentirosa que induziu o homem a desobedecer a
Deus.
Contudo, o poder de Satanás não é infinito. Ele não passa de uma
criatura, poderosa pelo fato de ser puro espírito, mas sempre criatura: não é
capaz de impedir a edificação do Reino de Deus. embora Satanás atue no mundo
por ódio contra Deus e o seu Reino em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause
graves danos – de natureza espiritual e, indiretamente, até de natureza física
– para cada homem e para a sociedade, esta ação é permitida pela Divina
Providência, que com vigor e doçura dirige a história do homem e do mundo. A
permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas “nós sabemos
que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,28).
III. O PECADO ORIGINAL
A LIBERDADE POSTA
À PROVA
Deus criou o homem à sua imagem e o constituiu na sua amizade. Criatura
espiritual, o homem só pode viver esta amizade como livre submissão a Deus. É o
que exprime a proibição, feita ao homem, de comer da árvore do conhecimento do
bem e do mal, “pois no dia em que dela comeres, terás de morrer” (Gn 2,17). “A
árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2,17) evoca simbolicamente o limite
intransponível que o homem, enquanto criatura, deve livremente reconhecer e
respeitar com confiança. O homem depende do Criador, está submetido às leis da
criação e às normas morais que regem o uso da liberdade.
Santidade de Deus 53
O PRIMEIRO PECADO
DO HOMEM
O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em
seu Criador e, abusando da sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de
Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí em
diante, será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade.
Neste pecado, o homem preferiu-se a si mesmo a Deus, e com isto
menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências
do seu estado de criatura e conseqüentemente de seu próprio bem. Criado em um
estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente “divinizado” por
Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis “ser como Deus”, mas “sem Deus, e
antes de Deus, e não segundo Deus”.
A Escritura mostra as conseqüências dramáticas desta primeira
desobediência. Adão e Eva perdem de imediato a graça da santidade original. Têm
medo de Deus do qual fizeram uma imagem falsa, a de um Deus enciumado das suas
prerrogativas.
A harmonia na qual estavam, estabelecida graças à justiça original, está
destruída; o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo é
rompido; a união entre o homem e a mulher é submetida a tensões; suas relações
serão marcadas pela cupidez e pela dominação. A harmonia com a criação está
rompida: a criação visível tornou-se para o homem estranha e hostil. Por causa
do homem, a criação está submetida “à servidão da corrupção” (Rm 8,20).
Finalmente, vai realizar-se a conseqüência explicitamente anunciada para o caso
de desobediência: o homem “voltará ao pó do qual é formado” (Gn 3,19). A
morte entra na história da humanidade.
A partir do primeiro pecado, uma verdadeira “invasão” do pecado inunda o
mundo: o fratricídio cometido por Caim contra Abel; a corrupção universal em
decorrência do pecado; na história de Israel, o pecado se manifesta freqüentemente
e sobre tudo como uma infidelidade ao Deus da Aliança e como transgressão da
Lei de Moises; e mesmo após a Redenção de Cristo, entre os cristãos, o pecado
se manifesta de muitas maneiras.
Santidade de Deus 54
A Escritura e a Tradição da Igreja não cessam de recordar a presença e a universalidade do pecado na história do homem:
Santidade de Deus 54
A Escritura e a Tradição da Igreja não cessam de recordar a presença e a universalidade do pecado na história do homem:
O que nos é
manifestado pela Revelação divina, concorda com a própria experiência. Pois o
homem, olhando para o seu coração, descobre-se também inclinado ao mal e
mergulhado em múltiplos males que não podem provir do seu Criador, que é bom.
Recusando-se muitas vezes a reconhecer Deus como seu princípio, o homem
destruiu a devida ordem em relação ao fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua
harmonia consigo mesmo, com os outros homens e com as coisas criadas.
CONSEQUÊNCIAS DO
PECADO DE ADÃO PARA A HUMANIDADE
Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo afirma:
“Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores” (Rm 5,19).
“Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte,
e assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram...” (Rm
5,12). À universalidade do pecado e da morte o Apóstolo opõe a universalidade
da salvação em Cristo: “Assim como da falta de um só resultou a condenação de
todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça, de um só, resultou para
todos os homens justificação que traz a vida” (Rm 5,18).
Na linha de S. Paulo, a Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que
oprime os homens e a sua inclinação para o mal e para a morte são
incompreensíveis, a não ser referindo-se ao pecado de Adão e sem o fato de que
este nos transmitiu um pecado que por nascença nos afeta a todos e é “morte da
alma”. Em razão desta certeza de fé, a Igreja ministra o batismo para a
remissão dos pecados mesmo às crianças que não cometeram pecado pessoal.
De que maneira o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus
descendentes? O gênero humano inteiro é um Adão – “como um só corpo de um só
homem”.
Santidade de Deus 55
Em virtude desta “unidade de gênero humano” todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo. Contudo, a transmissão do pecado original é um mistério que não somos capazes de compreender plenamente. Sabemos, porém, pela Revelação, que Adão havia recebido a santidade e a justiça originais não exclusivamente para si, mas para toda a natureza humana: ao cederem ao Tentador, Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana, que vão transmitir em um estado decaído. É um pecado que será transmitido por propagação à humanidade inteira, isto é, pela transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça originais. E é por isso que o pecado original é denominado “pecado” de maneira analógica: é um pecado “contraído” e não “cometido”, um estado e não um ato.
Santidade de Deus 55
Em virtude desta “unidade de gênero humano” todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo. Contudo, a transmissão do pecado original é um mistério que não somos capazes de compreender plenamente. Sabemos, porém, pela Revelação, que Adão havia recebido a santidade e a justiça originais não exclusivamente para si, mas para toda a natureza humana: ao cederem ao Tentador, Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana, que vão transmitir em um estado decaído. É um pecado que será transmitido por propagação à humanidade inteira, isto é, pela transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça originais. E é por isso que o pecado original é denominado “pecado” de maneira analógica: é um pecado “contraído” e não “cometido”, um estado e não um ato.
Embora próprio de cada um, o pecado original não tem, em nenhum
descendente de Adão, um caráter de falta pessoal. É a privação da santidade e
da justiça originais, mas a natureza humana não é totalmente corrompida: ela é
lesada na suas próprias forças naturais, submetida à ignorância, ao sofrimento
e ao império da morte, e inclinada ao pecado (esta propensão ao mal é chamada
“concupiscência”). O Batismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o
pecado original e torna a voltar o homem para Deus, porém as conseqüências de
tal pecado sobre a natureza, enfraquecida e inclinada ao mal, permanecem no
homem e o incitam ao combate espiritual.
A doutrina
da Igreja sobre a transmissão do pecado original adquiriu precisão sobretudo no
século V, em especial sob o impulso da reflexão de Sto. Agostinho contra o
pelagianismo, e no século XVI, em oposição à Reforma protestante. Pelágio
sustentava que o homem podia, pela força natural da sua vontade livre, sem a
ajuda necessária da graça de Deus, levar uma vida moralmente boa; limitava
assim a influência da falta de Adão à de
um mau exemplo. Os primeiros Reformadores protestantes, ao contrário, ensinavam
que o homem estava radicalmente pervertido e sua liberdade anulada pelo pecado
original: identificavam o pecado herdado por cada homem com a tendência ao mal
(“concupiscentia”), que seria insuperável. A Igreja pronunciou-se especialmente
sobre o sentido do dado revelado no tocante ao pecado original no segundo
Concílio de Oranges em 529 e no Concílio de Trento em 1546.
Santidade de Deus 56
UM DURO
COMBATE...
A doutrina sobre o pecado original – ligada à doutrina da Redenção
através de Cristo – propicia um discernimento lúcido sobre a situação do homem
e da sua ação no mundo. Pelo pecado dos primeiros pais, o Diabo adquiriu uma
certa dominação sobre o homem, embora este último permaneça livre. O pecado
original acarreta a “servidão debaixo do poder daquele que tinha o império da
morte, isto é, do Diabo”. Ignorar que o homem tem uma natureza lesada,
inclinada ao mal, dá lugar a graves erros no campo da educação, da política, da
ação social e dos costumes.
As conseqüências do pecado original e de todos os pecados pessoais dos
homens conferem ao mundo em seu conjunto uma condição pecadora, que pode ser
designada com a expressão de S. João: “O pecado do mundo” (Jo 1,29). Com esta
expressão quer-se exprimir também a influência negativa que exercem sobre as
pessoas as situações comunitárias, e as estruturas sociais que são o fruto dos
pecados dos homens.
Esta situação dramática do mundo, que “o mundo inteiro está sob o poder
do Maligno” (Jô 1,19), faz da vida do homem um combate:
Uma luta árdua contra o poder das trevas
perpassa a história universal da humanidade. Iniciada desde a origem do mundo,
vai durar até o último dia, segundo as palavras do Senhor. Inserido nesta
batalha, o homem deve lutar sempre para aderir ao bem; não consegue alcançar a
unidade interior senão com grandes labutas e o auxílio da graça de Deus.
IV. “NÃO O ABANDONASTE AO PODER DA MORTE”
Depois da queda, o homem não foi abandonado por Deus. Ao contrário, Deus
o chama e lhe anuncia de modo misterioso a vitória sobre o mal e o soerguimento
da queda. Esta passagem do Gêneses foi chamada de “Proto-evangelho”, por ser o
primeiro anúncio do Messias redentor, a do combate entre a serpente e a Mulher
e a vitória final de um descendente desta última.
Santidade de Deus 57
Santidade de Deus 57
A tradição cristã vê nesta passagem um anúncio do “novo Adão”, o qual,
pela sua “obediência até à morte de Cruz” (Fl 2,8), repara com superabundância
a desobediência de Adão. De resto, numerosos Padres e Doutores da Igreja vêem
na mulher anunciada no “proto-evangelho” a mãe de Cristo, Maria, como “nova
Eva”. Foi ela que, por primeira e de uma forma única, se beneficiou da vitória
sobre o pecado, conquistada por Cristo: ela foi preservada de toda mancha do
pecado original e durante toda vida terrestre, por uma graça especial de Deus,
não cometeu nenhuma espécie de pecado.
Mas por que Deus não impediu o primeiro homem de pecar? S. Leão
Magno responde: “A graça inefável de Cristo deu-nos bens melhores do que
aqueles que a inveja do Demônio nos havia subtraído”. E Sto. Tomás de Aquino:
“Nada obsta a que a natureza humana tenha sido destinada a um fim mais elevado
após o pecado. Com efeito, Deus permite que os males aconteçam para tirar deles
um bem maior. Donde a palavra de S. Paulo: ‘Onde abundou o pecado, superabundou
a graça’ (Rm 5,20). E o canto do Exultet: ‘Ò feliz culpa, que mereceu tal e tão
grande Redentor’”.
RESUMINDO
“Deus não
fez a morte, nem tem prazer em destruir os viventes... Foi pela inveja do Diabo
que a morte entrou no mundo” (Sb 1,13; 2,24).
Satanás ou
o Diabo, bem como os demais demônios são
anjos decaídos por se terem recusado livremente a servir a Deus e ao seu
desígnio. Sua opção contra Deus é definitiva. Eles tentam associar o homem à
sua revolta contra Deus.
“Constituído por Deus em estado de justiça, o homem, instigado pelo
Maligno, desde o início da história, abusou da própria liberdade. Levantou-se
contra Deus desejando atingir o seu objetivo fora dele”.
Pelo seu
pecado, Adão, na qualidade de primeiro homem, perdeu a santidade e a justiça
originais que havia recebido de Deus não somente para si, mas para todos os
seres humanos.
Santidade de Deus 58
Santidade de Deus 58
À sua
descendência, Adão e Eva transmitiram a natureza humana ferida pelo seu
primeiro pecado, portanto privada da santidade e da justiça originais. Esta
privação é denominada “pecado original”.
Em
conseqüência do pecado original, a natureza humana está enfraquecida nas suas
forças, submetida à ignorância, ao sofrimento e à dominação da morte, e
inclinada ao pecado (inclinação chamada de “concupiscência”).
“Mantemos,
portanto, com o Concílio de Trento, que o pecado original é transmitido com a
natureza humana, ‘não por imitação mas por propagação’, e que ele é, portanto,
‘próprio a cada um’”.
A vitória
sobre o pecado, conseguida por Cristo, deu-nos bens melhores do que aqueles que
o pecado nos havia tirado: “Onde avultou o pecado, a graça superabundou” (Rm
5,20).
“Segundo a
fé dos cristãos, este mundo foi criado e conservado pelo amor do Criador; este
mundo na verdade foi reduzido à servidão do pecado, mas Cristo crucificado e
ressuscitado quebrou o poder do Maligno e libertou o mundo...”.
ARTIGO 10
“CREIO NO PERDÃO DOS PECADOS”
O Símbolo dos Apóstolos correlaciona a fé no perdão dos pecados com a fé
no Espírito Santo, mas também com a fé na Igreja e na comunhão dos santos. Foi
dando o Espírito Santo aos seus apóstolos que Cristo ressuscitado lhes conferiu
o seu próprio poder divino de perdoar os pecados: “Recebei o Espírito Santo.
Aqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; aqueles a quem os
retiverdes, lhes serão retidos” (Jô 20,22-23).
(A Segunda Parte do Catecismo tratará
explicitamente do perdão dos pecados pelo batismo, pelo sacramento da
penitência e pelos outros sacramentos, sobretudo a Eucaristia. Por isso basta
aqui evocar sucintamente alguns dados básicos.)
I. UM SÓ BATISMO PARA O PERDÃO DOS PECADOS
Nosso Senhor ligou o perdão dos pecados à fé e o Batismo: “Ide por tudo
o mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado
será salvo” (Mc 16,15-16).
Santidade de Deus 59
O Batismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados porque nos une a Cristo morto pelos nossos pecados, ressuscitado para nossa justificação, para que “nós também vivamos vida nova” (Rm 6,4).
Santidade de Deus 59
O Batismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados porque nos une a Cristo morto pelos nossos pecados, ressuscitado para nossa justificação, para que “nós também vivamos vida nova” (Rm 6,4).
“No momento em que fazemos a nossa primeira profissão de fé, recebendo o
santo Batismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e tão
completo que não nos resta absolutamente nada a apagar, seja do pecado
original, seja dos pecados cometidos pela nossa própria vontade, nem nenhuma
pena a sofrer para expiá-los.(...) Contudo, a graça do Batismo não livra
ninguém de todas as fraquezas da natureza. Pelo contrário, ainda temos de
combater os movimentos da concupiscência, que não cessam de arrastar-nos para o
mal”.
Neste combate contra a inclinação para o mal, quem seria suficientemente
forte e vigilante para evitar toda ferida do pecado? “Se, portanto, era
necessário que a Igreja tivesse o poder de perdoar os pecados, também era
preciso que o Batismo não fosse para ela o único meio de servir-se dessas
chaves do Reino dos Céus, que havia recebido de Jesus Cristo; era preciso que
ela fosse capaz de perdoar as faltas a todos os penitentes, ainda que tivessem
pecado até o último instante da sua vida”.
É pelo sacramento da Penitência que o batizado pode ser reconciliado com
Deus e com a Igreja:
Os padres da Igreja chamavam com razão a
Penitência “um Batismo laborioso”. O sacramento da Penitência é necessário para
a salvação daqueles que caíram depois do Batismo, assim como o Batismo para os
que ainda não foram regenerados.
II. O PODER DAS CHAVES
Depois da sua Ressurreição, Cristo enviou seus Apóstolos para “anunciar
a todas as nações o arrependimento em seu Nome em vista da remissão dos
pecados” (2Cor 5,18), os Apóstolos e sues sucessores não o exercem somente
anunciando aos homens o perdão de Deus merecido para nós por Cristo e
chamando-os à conversão e à fé, mas também comunicando-lhes a remissão dos
pecados pelo Batismo e reconciliando-os com Deus e com a Igreja graças ao poder
das chaves recebido de Cristo:
Santidade de Deus 60
A Igreja
recebeu as chaves do Reino dos Céus para que se opere nela a remissão dos
pecados pelo sangue de Cristo e pela ação do Espírito Santo. É nesta Igreja que
a alma revive, ela que estava morta pelos pecados, a fim de viver com Cristo,
cuja graça nos salvou.
Não há pecado
algum, por mais grave que seja, que a santa Igreja não possa perdoar. “Não
existe ninguém, por mau e culpado que seja, que não deva esperar com segurança
o seu perdão, desde que o seu arrependimento seja sincero”. Cristo, que morreu
por todos os homens, quer que, na sua Igreja, as portas do perdão estejam
sempre abertas a todo aquele que recua do pecado.
A catequese empenhar-se-á em despertar e alimentar nos fiéis a fé na
grandeza incomparável do dom que Cristo ressuscitado concedeu à sua Igreja: a
missão e o poder de perdoar verdadeiramente os pecados, pelo ministério dos
apóstolos e dos seus sucessores:
O Senhor quer que seus discípulos tenham um
poder imenso: quer que seus pobres servidores realizem em seu nome tudo o que
havia feito quando estava na terra.
Os
presbíteros receberam um poder que Deus não deu nem aos anjos nem aos arcanjos.
Deus sanciona lá no alto tudo o que os sacerdotes fazem aqui embaixo.
Se na
Igreja não existisse a remissão dos pecados, não existiria nenhuma esperança,
nenhuma perspectiva de uma vida eterna e de uma libertação eterna. Demos graças
a Deus que deu à sua Igreja um tal dom.
RESUMINDO
O Credo
relaciona “o perdão dos pecados” com a profissão de fé no Espírito Santo. Com
efeito, Cristo ressuscitado confiou aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados
quando lhes deu o Espírito Santo.
O Batismo é
o primeiro e o principal sacramento para o perdão dos pecados: une-nos a Cristo
morto e ressuscitado e nos dá o Espírito Santo.
Santidade de Deus 61
Pela vontade de Cristo, a Igreja possui o poder de perdoar os pecados dos batizados, e o exerce através dos Bispos e dos presbíteros de maneira habitual no sacramento da Penitência.
“Na
remissão dos pecados, os presbíteros e os sacramentos são meros instrumentos
dos quais Nosso Senhor Jesus Cristo, único autor e dispensador da nossa
salvação, se apraz em se servir para apagar as nossas iniqüidades e dar-nos a
graça da justificação”.
SEGUNDA
PARTE
A
CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO
SEGUNDA SEÇÃO
OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA
Os sacramentos da
nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a
Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o
Matrimônio. Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos
importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e
crescimento, cura e missão.
CAPÍTULO II
OS SACRAMENTOS DE CURA
Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de
Cristo. Ora, esta vida nós a trazemos “em vasos de argila” (2Cor 4,7). Agora,
ela ainda se encontra “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). Estamos ainda em
“nossa morada terrestre” (2Cor 5,1), sujeitos ao sofrimento, à doença e à
morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até perdida
pelo pecado.
Santidade de Deus 62
Santidade de Deus 62
O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, ele
que remiu os pecados do paralítico e restituiu-lhe a saúde do corpo, quis que
sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de
salvação, também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois
sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o sacramento de Unção dos
Enfermos.
ARTIGO 4
O
SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO
“Aqueles que se aproximam do sacramento da
Penitência obtém da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao
mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual
colabora para sua conversão com caridade, exemplo e oração”.
I. COMO SE CHAMA ESTE
SACRAMENTO?
Chama-se sacramento da Conversão, pois
realiza sacramentalmente o convite de Jesus à conversão, o caminho de volta ao
Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado.
Chama-se sacramento da Penitência
porque consagra um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e
de satisfação do cristão pecador.
É chamado sacramento da Confissão
porque a declaração, a confissão dos pecados diante do sacerdote é um elemento
essencial desse sacramento. Num sentido profundo esse sacramento também é uma
“confissão”, reconhecimento e louvor da santidade de Deus e de sua misericórdia
para com o homem pecador.
Santidade de Deus 63
Também é chamado sacramento do perdão
porque pela absolvição sacramental do sacerdote Deus concede “o perdão e a
paz”.
É chamado sacramento da reconciliação
porque dá ao pecador o amor de Deus que reconcilia: “Reconciliai-vos com Deus”
(2Cor 5,20). Quem do amor misericordioso de Deus está pronto a responder ao
apelo do Senhor: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt 5,24).
II. POR QUE
UM SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO APÓS O BATISMO?
“Vós vos
lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor
Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1Cor 6,11). É preciso tomar
consciência da grandeza do dom de Deus que nos é oferecido nos sacramentos da
iniciação cristã para compreender até que ponto o pecado é algo que deve ser
excluído daquele que se “vestiu de Cristo” (Gl 3,27). Mas o Apóstolo São João
também diz: “Se dissermos: não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a
verdade não está em nós” (1Jo 1,8). E o próprio Senhor nos ensinou a rezar:
“Perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11,4), vinculando o perdão de nossas ofensas
ao perdão que Deus nos concederá de nossos pecados.
A conversão a Cristo, o novo
nascimento pelo Batismo, o dom do Espírito Santo, o Corpo e o Sangue de Cristo
recebidos como alimentos nos tornaram “santos e irrepreensíveis diante dele”
(Ef 1,4), como a própria Igreja, esposa de Cristo, é Santa e irrepreensível”
(Ef 5,27). Entretanto a nova vida recebida na iniciação cristã não suprimiu a
fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação ao pecado, que a
tradição chama de concupiscência, que continua nos batizados para
prová-los no combate da vida cristã, auxiliados pela graça de Cristo. É o
combate da conversão para chegar à santidade e à vida eterna, para a qual
somos incessantemente chamados pelo Senhor.
Santidade de Deus 64
III. A
CONVERSÃO DOS BATIZADOS
Jesus convida à conversão. Este apelo é parte
essencial do anúncio do Reino: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1,15).
Na pregação da Igreja este
apelo é feito em primeiro lugar aos que ainda não conhecem a Cristo e seu
Evangelho. Além disso, o Batismo é o principal lugar de primeira e fundamental
conversão. É pela fé na boa nova e pelo Batismo que se renuncia ao mal e se
adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os pecados e o dom da nova
vida.
Ora, o apelo de Cristo à
conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é
uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que “reúne em seu próprio seio os
pecadores” e que “é ao mesmo tempo santa e sempre, na necessidade de
purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação”. Este esforço de
conversão não é apenas uma obra humana. É o movimento do “coração contrito” (Sl
51,19) atraído e movido pela graça a responder ao amor misericordioso de Deus
que nos amou primeiro.
Comprova-o a conversão de S.
Pedro após a tríplice negação de seu mestre. O olhar de infinita misericórdia
de Jesus provoca lágrimas de arrependimento (cf. Lc 22,61) e, depois da
ressurreição do Senhor, a afirmação, três vezes reiterada, de seu amor por ele.
A segunda conversão também possui uma dimensão comunitária. Isto aparece
no apelo do Senhor a toda uma Igreja: “Converte-te!” (9Ap 2,5.16).
Sto.
Ambrósio, referindo-se às duas conversões, diz que na Igreja “existem a água e
as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência”.
IV. A PENITÊNCIA INTERIOR
Como já nos profetas, o apelo
de Jesus à conversão e à penitência não visa em primeiro lugar às obras exteriores,
“o saco e a cinza”, os jejuns e as mortificações, mas à conversão do
coração, à penitência interior. Sem ela, as obras de penitência continuam
estéreis e enganadoras: a conversão interior, ao contrário, impele a expressar
essa atitude por sinais visíveis, gestos e obras de penitência.
Santidade de Deus 65
Santidade de Deus 65
A penitência interior é uma
reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de
todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância
às más obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar
de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua
graça. Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e uma tristeza
salutares, chamadas pelos Padres de “aflição do espírito”, “arrependimento
do coração”.
O coração do homem
apresenta-se pesado e endurecido. É preciso que Deus dê ao homem um coração
novo. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que reconduz nossos
corações a ele: “Convertei-nos, a ti, Senhor, e nos converteremos” (Lm 5,21).
Deus dá a força de começar de novo. É descobrindo a grandeza do amor de Deus
que nosso coração experimenta o horror e peso do pecado e começa a ter medo de
ofender a Deus pelo mesmo pecado, e ser separado dele. O coração humano converte-se
olhando para aquele que foi traspassado por nossos pecados.
Fixemos nossos olhos no sangue de Cristo para compreender como é
precioso a seu Pai porque, derramado para a nossa salvação, dispensou ao mundo
inteiro a graça do arrependimento.
Depois da Páscoa, o Espírito
Santo “estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado” (Jo 16,8-9),
a saber, que o mundo não acreditou naquele que o Pai enviou. Mas esse mesmo
Espírito, que revela o pecado, é o Consolador que dá ao coração do homem a
graça do arrependimento e da conversão.
Santidade de Deus 66
V. AS MÚLTIPLAS FORMAS DA
PENITÊNCIA NA VIDA CRISTÃ
A penitência interior do
cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem
principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que
exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da
purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de
obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o
próximo, as lágrimas de penitência, , a preocupação com a salvação do próximo,
a intercessão dos santos e a prática da caridade, “que cobre uma multidão de
pecados” (1Pd 4,8).
A conversão se realiza na vida
cotidiana através de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres, do
exercício e da defesa da justiça e do direito, pela confissão das faltas aos
irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de
consciência, pela direção espiritual, pela, aceitação dos sofrimentos, pela
firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, e seguir
a Jesus é o caminho mais seguro da penitência.
Eucaristia e penitência.
A conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e seu alimento na
Eucaristia, pois nela se torna presente o sacrifício de Cristo que nos
reconciliou com Deus; por ela são nutridos e fortalecidos aqueles que vivem da
vida de Cristo: ela é o antídoto que nos liberta de nossas faltas cotidianas e
nos preserva dos pecados mortais”.
A leitura da Sagrada
Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo ato sincero de
culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e de penitência e
contribui para o perdão dos pecados.
Os tempos e os dias de
penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira
da quaresma em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática
penitencial da Igreja. Esses tempos são particularmente apropriados aos
exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de
penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha
fraterna (obras de caridade e missionárias).
Santidade de Deus 67
Santidade de Deus 67
O dinamismo da conversão e
da penitência foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do “filho
pródigo”, cujo centro é “o pai misericordioso” (cf. Lc 15,11-24): o fascínio de
uma liberdade ilusória, o abandono da casa paterna; a extrema miséria em que se
encontra o filho depois de esbanjar sua fortuna; a profunda humilhação de
ver-se obrigado a cuidar dos porcos e, pior ainda, de querer matar a fome com a
sua ração; a reflexão sobre os bens perdidos; o arrependimento a decisão de declarar-se culpado diante do
pai; o caminho de volta; o generoso acolhimento da parte do pai; a alegria do
pai: tudo isso são traços específicos do processo de conversão. A bela túnica,
o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova vida, pura, digna, cheia
de alegria, que é a vida do homem que volta a Deus e ao seio de sua família,
que é a Igreja. Só o coração de Cristo que conhece as profundezas do amor do Pai
pôde revelar-nos o abismo de sua misericórdia de uma maneira tão simples e tão
bela.
VI. O SACRAMENTO DA
PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO
O pecado é antes de tudo uma
ofensa a Deus, uma ruptura da comunhão com ele. Ao mesmo tempo é um atentado à
comunhão com a Igreja. Por isso, a conversão traz simultaneamente o perdão de
Deus e a reconciliação com a Igreja, o que é expresso e realizado
liturgicamente pelo sacramento da Penitência e da Reconciliação.
SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS
Só Deus perdoa os pecados. Por
ser o Filho de Deus, Jesus diz de si mesmo: “O Filho do homem tem poder de
perdoar pecados na terra” (Mc 2,10) e exerce esse poder divino: “Teus pecados
estão perdoados!” (Mc 2,5; Lc 7,48). Mais ainda: em virtude de sua autoridade
divina, transmite esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome.
Santidade de Deus 68
Santidade de Deus 68
A vontade de Cristo é que toda
a sua Igreja seja, na oração, na sua vida e sua ação, o sinal e instrumento do
perdão e da reconciliação que “ele nos conquistou ao preço de seu sangue”. Mas
confiou o exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico,
encarregado do “ministério da reconciliação” (2Cor 5,18). O apóstolo é enviado
“em nome de Cristo”, e “é o próprio Deus” que, através dele, exorta e suplica:
“Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).
RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA
Durante sua vida pública,
Jesus não só perdoou ao pecados, mas também manifestou o efeito desse perdão:
reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da qual o
pecado os havia afastado ou até excluído. Um sinal evidente disso é o fato de
Jesus admitir os pecadores à sua mesa e, mais ainda, de Ele mesmo sentar-se à
sua mesa, gesto que exprime de modo estupendo ao mesmo tempo o perdão de Deus e
o retorno ao seio do Povo de Deus.
Conferindo aos apóstolos seu
próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá a autoridade de
reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial de sua tarefa
exprime-se principalmente na solene palavra de Cristo a Simão Pedro: “Eu te
darei as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares na terra será ligado nos
céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). “O múnus
de ligar e desligar, que foi dado a Pedro, consta que também foi dado ao
colégio dos apóstolos, unido a seu chefe (cf. Mt 18,18; 28, 16-20)”.
As palavras ligar e
desligar significam: aquele que excluirdes da vossa comunhão, será excluído
da comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo na vossa comunhão, Deus o
acolherá também na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da
reconciliação com Deus.
Santidade de Deus 69
O SACRAMENTO DO PERDÃO
Cristo instituiu o sacramento
de Penitência para todos os membros pecadores de sua Igreja, antes de tudo para
aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e com isso perderam a
graça batismal e feriram a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da
Penitência oferece uma nova possibilidade de converter-se e de recobrar a graça
justificação. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como “a segunda
tábua (de salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça”.
No curso dos séculos, a forma
concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do Senhor variou
muito. Nos primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos que haviam cometido
pecados particularmente graves depois do Batismo (por exemplo, a idolatria, o
homicídio ou o adultério) estava ligada a uma disciplina bastante rigorosa,
segundo a qual os penitentes deviam fazer penitência pública por seus pecados,
muitas vezes durante longos anos, antes de receber a reconciliação. A esta
“ordem dos penitentes” (que incluía apenas certos pecados graves) só se era
admitido raramente e, em certas regiões, só uma vez na vida. No século VII,
inspirados na tradição monástica do Oriente, os missionários irlandeses
trouxeram para a Europa continental a prática “privada” da penitência que não
mais exigia a prática pública e prolongada de obras de penitência antes de
receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento se realiza daí em diante de
uma forma mais secreta entre o penitente e o presbítero. Esta nova prática
previa a possibilidade da repetição, abrindo assim o caminho para uma
freqüência regular a este sacramento. Permitia integrar numa única celebração
sacramental o perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Em linhas gerais,
é essa a forma de penitência que é praticada na Igreja até hoje.
Através das mudanças por que
passaram a disciplina e a celebração deste sacramento ao longo dos séculos,
podemos discernir sua própria estrutura fundamental que consta de dois
elementos igualmente essenciais:
Santidade de Deus 70
de um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação; de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Batismo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação, ora pelo pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado na comunhão eclesial.
Santidade de Deus 70
de um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação; de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Batismo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfação, ora pelo pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado na comunhão eclesial.
A fórmula da absolvição em uso
na Igreja latina exprime os elementos essenciais deste sacramento: o Pai das
misericórdias é a fonte de todo perdão. Ele opera a reconciliação dos pecadores
pela páscoa de seu Filho e pelo dom de seu Espírito, através da oração e
ministério da Igreja:
Deus,
Pai de misericórdia, que, pela Morte e Ressurreição de seu Filho, reconciliou o
mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda,
pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados,
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
VII. OS ATOS DO PENITENTE
A penitência impele o pecador
a suportar tudo de boa vontade. Em seu coração está o arrependimento; em sua
boca, a acusação; em suas obras, plena humildade e proveitosa satisfação.
A CONTRIÇÃO
Entre os atos do penitente, a contrição vem
em primeiro lugar. Consiste “numa dor da alma e detestação do pecado cometido,
com a resolução de não mais pecar no futuro”.
Quando brota do amor de Deus,
amado acima de tudo, a contrição é “perfeita” (contrição de caridade). Esta contrição
perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos pecados mortais, se
incluir a firme resolução de recorrer, quando possível, à confissão
sacramental.
Santidade de Deus 71
Santidade de Deus 71
A contrição chamada
“imperfeita” (ou “atrição”) também é um dom de Deus, um impulso do Espírito
Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da condenação eterna
e de outras penas que ameaçam o pecador (contrição por temor). Este abalo da
consciência pode ser o início de uma evolução interior que será concluída sob a
ação da graça, pela absolvição sacramental. Por isso mesma, porém, a contrição
imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no
sacramento da penitência.
Convém preparar a recepção
deste sacramento fazendo um exame de consciência à luz da Palavra de
Deus. Os textos mais adaptados a esse fim devem ser procurados na catequese
moral dos evangelhos e das cartas apostólicas: Sermão da Montanha, ensinamentos
apostólicos.
A CONFISSÃO DOS PECADOS
A confissão dos pecados
(acusação), mesmo do ponto de vista simplesmente humano, liberta-nos e facilita
nossa reconciliação com os outros. Pela acusação, o homem encara de frente os
pecados dos quais se tornou culpado: assume a responsabilidade deles e, assim,
abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, a fim de tornar possível um
futuro novo.
A declaração dos pecados ao
sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da penitência: “Os
penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que têm
consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados sejam
muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os dois últimos preceitos
do decálogo, pois às vezes esses pecados ferem gravemente a alma e são mais
prejudiciais do que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de
todos”.
Quando
os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à memória,
não se pode duvidar que tenham o intuito de apresentá-los todos ao perdão da
misericórdia divina. Os que agem de outra forma tentando ocultar
conscientemente alguns pecados não colocam diante da bondade divina nada que
ela possa remir por intermédio do sacerdote. Pois, “se o doente insistir em
esconder do médico sua ferida, como poderá a medicina curá-lo”?
Santidade de Deus 72
Conforme o mandamento da
Igreja, “todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é obrigado a
confessar fielmente seus pecados graves, pelo menos uma vez por ano”. Aquele
que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve receber a Sagrada
Comunhão, mesmo que esteja profundamente contrito, sem receber previamente a
absolvição sacramental, a menos que tenha um motivo grave para comungar e lhe
seja impossível chegar a um confessor. As crianças devem confessar-se antes de
receber a Primeira eucaristia.
Apesar de não ser estritamente
necessária, a confissão das faltas contidas (pecado venial) é vivamente
recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão regular dos nossos pecados nos
ajuda a formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências, a ver-nos
curados por Cristo, a progredir na vida do Espírito. Recebendo mais
freqüentemente, através deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos
levados a ser misericordiosos com ele:
Quem confessa os próprios pecados está
agindo em harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se tu também os acusas,
tu te associas a Deus. O homem e o pecador são por assim dizer duas realidades:
quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves falar do
pecador, é o próprio homem quem o fez. Destróis o que fizeste para que Deus
salve o que ele fez... Quando começas a detestar o que fizeste, é então que
tuas boas obras começam, porque acusas tuas más obras. A confissão das más
obras é o começo das boas obras. Contribuis para a verdade e consegues à luz.
A SATISFAÇÃO
Muitos pecados prejudicam o
próximo. É preciso fazer o possível para reparar esse mal (por exemplo:
restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi
caluniado, compensar as ofensas e injúrias). A simples justiça exige isso. Mas,
além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, como também suas
relações com Deus e com o próximo.
Santidade de Deus 73
A absolvição tira o pecado, mas não remedia todas as desordens que ele causou. Liberto do pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto, fazer alguma coisa a mais para reparar seus pecados: deve “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” seus pecados. Esta satisfação chama-se também “penitência”.
Santidade de Deus 73
A absolvição tira o pecado, mas não remedia todas as desordens que ele causou. Liberto do pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto, fazer alguma coisa a mais para reparar seus pecados: deve “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” seus pecados. Esta satisfação chama-se também “penitência”.
A penitência imposta
pelo confessor deve levar em conta a situação pessoal do penitente e procurar
seu bem espiritual. Deve corresponder, na medida do possível, à gravidade e à
natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, numa oferta, em obras
de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e
principalmente na aceitação paciente da cruz que temos de carregar. Essas
penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo que, sozinho, expiou nossos
pecados uma vez por todas. Permitem-nos também tornar-nos co-herdeiros de
Cristo ressuscitado, “pois sofremos com ele”:
Mas nossa satisfação, aquela que pagamos
pelos nossos pecados, só vale por Jesus Cristo: pois não podendo coisa alguma
por nós mesmos, “tudo podemos com a cooperação daquele que nos conforta” (Fl
4,13). E assim não tem o homem de que se gloriar, mas toda a nossa “glória”
está em Cristo... em quem oferecemos satisfação, “produzindo dignos frutos de
penitência” (Lc 3,8), que dele tiram a sua virtude, por ele são oferecidos ao
Pai e por ele aceitos pelo Pai.
VIII. O
MINISTRO DESTE SACRAMENTO
Como Jesus confiou aos seus
apóstolos o ministério da Reconciliação, os Bispos, seus sucessores, e os
presbíteros, colaboradores dos Bispos, continuam a exercer esse ministério. De
fato, são os Bispos e os presbíteros que têm, em virtude do sacramento da
Ordem, o poder de perdoar todos os pecados “em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo”.
O perdão dos pecados
reconcilia com Deus mas também com a Igreja. O Bispo, chefe visível da Igreja
Particular, é portanto considerado, com plena razão, desde os tempos
primitivos, como aquele que principalmente detém o poder e o ministério da
reconciliação: ele é o moderador da disciplina penitencial.
Santidade de Deus 74
Os presbíteros, seus colaboradores, o exercem na medida em que receberam o múnus, quer de seu Bispo (ou de um superior religioso), quer do Papa, através do direito da Igreja.
Santidade de Deus 74
Os presbíteros, seus colaboradores, o exercem na medida em que receberam o múnus, quer de seu Bispo (ou de um superior religioso), quer do Papa, através do direito da Igreja.
Alguns pecados particularmente
graves são passíveis de excomunhão, a pena eclesiástica mais severa, que impede
a recepção dos sacramentos e o exercício de certos atos eclesiais. Neste caso a
absolvição não pode ser dada, segundo o direito da Igreja, a não ser pelo Papa,
pelo Bispo local ou por presbíteros autorizados por eles. E caso de perigo de
morte, qualquer sacerdote, mesmo privado da faculdade de ouvir confissões, pode
absolver de qualquer pecado e de qualquer excomunhão.
Os sacerdotes devem incentivar
os fiéis a receber o sacramento da Penitência e devem mostrar-se disponíveis a
celebrar este sacramento cada vez que os cristãos o pedirem de um modo
conveniente.
Ao celebrar o sacramento da
Penitência, o sacerdote cumpre o ministério do bom pastor, que busca a ovelha
perdida; do bom samaritano, que cura as feridas; do Pai que espera o filho
pródigo e o acolhe ao voltar; do justo juiz que não faz acepção de pessoa e
cujo julgamento é justo e misericordioso ao mesmo tempo. Em suma, o sacerdote é
o sinal e o instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador.
O confessor não é o Senhor,
mas o servo do perdão de Deus. O ministro deste sacramento deve unir-se à intenção
e à caridade de Cristo. Deve possuir um comprovado conhecimento do
comportamento cristão, experiência das coisas humanas, respeito e delicadeza
diante daquele que caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao magistério da Igreja
e conduzir, com paciência, o penitente à cura e à plena maturidade. Deve orar e
fazer penitência por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor.
Diante da delicadeza e
grandiosidade deste ministério e do respeito que se deve às pessoas, a Igreja
declara que todo sacerdote que ouve confissões é obrigado a guardar segredo
absoluto a respeito dos pecados que seus penitentes lhe confessaram, sob penas
severíssimas.
Santidade de Deus 75
Também não pode fazer uso do conhecimento da vida dos penitentes adquirido pela confissão. Esse sigilo, que não admite exceções, chama-se “sigilo sacramental”, porque o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece “selado” pelo sacramento.
Santidade de Deus 75
Também não pode fazer uso do conhecimento da vida dos penitentes adquirido pela confissão. Esse sigilo, que não admite exceções, chama-se “sigilo sacramental”, porque o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece “selado” pelo sacramento.
IX. OS
EFEITOS DESTE SACRAMENTO
“Toda a força da Penitência
reside no fato de ela nos reconstituir na graça de Deus e de nos unir a ele com
a máxima amizade”. Portanto a finalidade e o efeito deste sacramento é a reconciliação
com Deus. Os que recebem o sacramento da Penitência com coração contrito e
disposição religiosa “podem usufruir a paz e tranqüilidade da consciência, que
vem acompanhada de uma intensa consolação espiritual”. Com efeito, o sacramento
da Reconciliação com Deus traz consigo uma verdadeira “ressurreição
espiritual”, uma restituição da dignidade e dos bens da vida dos filhos de
Deus, entre os quais o mais precioso é a amizade de Deus (Lc 15,32).
Este sacramento nos reconcilia
com a Igreja. O pecado rompe ou quebra a comunhão fraterna. O sacramento da
Penitência a repara ou restaura. Neste sentido, ele não cura apenas aquele que
é restabelecido na comunhão eclesial, mas tem também um efeito vivificante
sobre a vida da Igreja, que sofreu com o pecado de um de seus membros.
Restabelecido ou confirmado na comunhão dos santos, o pecador sai fortalecido
pela participação dos bens espirituais de todos os membros vivos do Corpo de
Cristo, quer estejam ainda em estado de peregrinação, quer já estejam na pátria
celeste:
Não devemos esquecer que a reconciliação com
Deus tem como conseqüência, por assim dizer, outras reconciliações capazes de
remediar outras rupturas ocasionadas pelo pecado: o penitente perdoado
reconcilia-se consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser, onde recupera a
própria verdade interior; reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira
ofendeu e feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a
criação.
Santidade de Deus 76
Neste sacramento, o pecador,
entregando-se ao julgamento misericordioso de Deus, antecipa de certa
maneira o julgamento a que será sujeito no fim desta vida terrestre.
Pois é agora, nesta vida, que nos é oferecida a escolha entre a vida e a morte,
e só pelo caminho da conversão poderemos entrar no Reino do qual somos
excluídos pelo pecado grave. Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé,
o pecador passa da morte para a vida “sem ser julgado” (Jo 5,24).
X. AS INDULGÊNCIAS
A doutrina e a prática das
indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento da
penitência.
QUE É A INDULGÊNCIA?
“A indulgência é a remissão,
diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à
culpa, que o fiel bem disposto obtém em certas condições determinadas, pela
intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica
por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos”.
“A indulgência é parcial ou
plenária, conforme liberar parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados”.
As indulgências podem aplicar-se aos vivos e aos defuntos.
AS PENAS DO PECADO
Para compreender esta doutrina
e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla conseqüência.
O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, conseqüentemente, nos torna
incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna” do pecado. Por
outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às
criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no
estado chamado purgatório.
Santidade de Deus 77
Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas antes como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, não subsistindo mais nenhuma pena.
Santidade de Deus 77
Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas antes como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, não subsistindo mais nenhuma pena.
O perdão do pecado e a
restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do
pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado. O cristão deve
esforçar-se, suportando pacientemente os
sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora de enfrentar serenamente
a morte, aceitar como uma graça essas penas temporais do pecado; deve
aplicar-se, através de obras de misericórdia e de caridade, como também pela
oração de diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente do
“velho homem” para revestir-se do “homem novo”.
NA COMUNHÃO DOS SANTOS
O cristão que procura
purificar-se de seu pecado e santificar-se com o auxílio da graça de Deus não
está só. “A vida de cada um dos filhos de Deus em Cristo e por Cristo se acha
unida por admirável laço à vida de todos os outros irmãos cristãos na sobrenatural
unidade do corpo místico de Cristo, como uma única pessoa mística”.
Na comunhão dos santos “existe
certamente entre os fiéis já admitidos na pátria celeste, os que expiam as
faltas no purgatório e os que ainda peregrina na terra, um laço de caridade e
um amplo intercâmbio de todos os bens”. Neste admirável intercâmbio, cada um se
beneficia da santidade dos outros, bem para além do prejuízo que o pecado de um
possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao
pecador contrito ser purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do
pecado.
Santidade de Deus 78
Santidade de Deus 78
Esses bens espirituais da
comunhão dos santos também são chamados o tesouro da Igreja, “que não é
uma soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas no decorrer dos
séculos, mas é o valor infinito e inesgotável que têm junto a Deus as expiações
e os méritos de Cristo nosso Senhor, oferecidos para que a humanidade toda seja
libertada do pecado e chegue à comunhão com o Pai. É em Cristo, nosso redentor,
que se encontram em abundância as satisfações e os méritos de sua redenção”.
“Pertence além disso a esse
tesouro o valor verdadeiramente imenso e incomensurável e sempre novo que têm
junto a Deus as preces e as boas obras da Bem-aventurada Virgem Maria e de
todos os santos que, seguindo as pegadas de Cristo Senhor, por sua graça se
santificaram e totalmente acabaram a obra que o Pai lhes confiara; de sorte
que, operando a própria salvação, também contribuíram para a salvação de seus
irmãos na unidade do corpo místico”.
OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS PELA IGREJA
A indulgência se obtém pela
Igreja que, em virtude do poder de ligar e desligar que Cristo Jesus lhe
concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o tesouro dos méritos de
Cristo e dos santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das penas
temporais devidas aos seus pecados. Assim a Igreja não só vem em auxílio do
cristão, mas também o incita a obras de piedade, de penitência e de caridade.
Uma vez que os fiéis defuntos
em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos santos, podemos
ajudá-los obtendo para eles indulgências, para libertação das penas temporais
devidas por seus pecados.
XI. A CELEBRAÇÃO DO
SACRAMENTO DA PENITÊNCIA
Como todos os sacramentos, a
Penitência é uma ação litúrgica. São esses ordinariamente os elementos da
celebração: saudação e bênção do sacerdote,
Santidade de Deus 79
leitura da palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os declara ao padre; imposição e aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e despedida com a bênção do sacerdote.
Santidade de Deus 79
leitura da palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os declara ao padre; imposição e aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e despedida com a bênção do sacerdote.
A liturgia bizantina conhece diversas
fórmulas de absolvição, de forma deprecativa, que exprimem admiravelmente o
mistério do perdão: “Que o Deus que pelo profeta Natã perdoou a Davi que
confessou seus próprios pecados, a Pedro quando chorou amargamente, à
prostituta quando lavou seus pés com lágrimas, ao fariseu e ao filho pródigo,
que esse mesmo Deus vos perdoe, por mim, pecador, nesta vida e na outra, e que
vos faça comparecer ao seu terrível tribunal sem vos condenar. Ele que é
bendito nos séculos dos séculos. Amém”.
O sacramento da Penitência
também pode ter lugar no quadro de uma celebração comunitária, na qual
as pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas agradecem pelo
perdão recebido. Neste caso a confissão pessoal dos pecados e a absolvição
individual são inseridas numa liturgia da palavra de Deus, com leituras e
homilia, exame de consciência em comum, pedido comunitário de perdão, oração do
“Pai-Nosso” e ação de graças em comum. Esta celebração comunitária exprime mais
claramente o caráter eclesial da penitência. Mas, seja qual for o modo da
celebração, o sacramento da penitência sempre é, por sua própria natureza, uma
ação litúrgica, portanto eclesial e pública.
Em casos de necessidade grave,
pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação com confissão e
absolvição gerais. Esta necessidade grave pode apresentar-se quando há um
perigo iminente de morte sem que o ou os sacerdotes tenham tempo suficiente
para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade grave pode também
apresentar-se quando, tendo-se em vista o número dos penitentes, não havendo
confessores suficientes para ouvir devidamente as confissões individuais num
tempo razoável,de modo que os penitentes, sem culpa de sua parte, se veriam
privados durante muito tempo da graça sacramental ou da sagrada Eucaristia.
Neste caso os fiéis devem ter, para a validade da absolvição, o propósito de
confessar individualmente seus pecados no devido tempo.
Santidade de Deus 80
Cabe ao Bispo diocesano julgar se os requisitos para a absolvição geral existem. Um grande concurso de fiéis por ocasião das grandes festas ou de peregrinação não constitui caso de tal necessidade grave.
Santidade de Deus 80
Cabe ao Bispo diocesano julgar se os requisitos para a absolvição geral existem. Um grande concurso de fiéis por ocasião das grandes festas ou de peregrinação não constitui caso de tal necessidade grave.
“A confissão individual e
integral seguida da absolvição continua sendo o único modo ordinário pelo qual
os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo se uma impossibilidade
física ou moral dispensar desta confissão”. Há razões profundas para isso.
Cristo age em cada um dos sacramentos. Dirige-se pessoalmente a cada um dos
pecadores: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2,5); ele é o médico
que debruça sobre cada um dos doentes que têm necessidade dele para curá-los;
ele os soergue e reintegra na comunhão fraterna. A confissão pessoal é pois a
forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja.
RESUMINDO
“Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes
disse: Recebei o Espírito Santo; aqueles a quem perdoardes os pecados
ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo
20,22-23).
O perdão dos pecados cometidos após o
Batismo é concedido por um sacramento próprio chamado sacramento da Conversão,
da Confissão, da Penitência ou da Reconciliação.
Quem peca fere a honra de Deus e seu amor,
sua própria dignidade de homem chamado a ser filho de Deus e a saúde espiritual
da Igreja, da qual cada cristão é uma pedra viva.
Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do
que o pecado, e nada tem conseqüências piores para os próprios pecadores, para
a Igreja e para o mundo inteiro.
Voltar a comunhão com Deus depois de a ter
perdido pelo pecado é um movimento que nasce da graça do Deus misericordioso e
solícito pela salvação dos homens. É preciso pedir esse dom precioso para si
mesmo como também para os outros.
O movimento de volta a Deus, chamado
conversão e arrependimento, implica uma dor e uma aversão aos pecados cometidos
e o firme propósito de não mais pecar no futuro. A conversão atinge portanto o
passado e o futuro; nutre-se da esperança na misericórdia divina.
Santidade de Deus 81
O sacramento da Penitência é constituído de três atos do penitente, e da absolvição dada pelo sacerdote. Os atos do penitente são: o arrependimento, a confissão ou declaração dos pecados ao sacerdote e o propósito de cumprir a penitência e as obras de reparação.
O arrependimento (também chamado contrição)
deve inspirar-se em motivos que decorrem da fé. Se o arrependimento estiver
embasado no amor de caridade para com Deus, é chamado “perfeito”; se estiver
fundado em outros motivos, será “imperfeito”.
Aquele que quiser obter a reconciliação com
Deus e com a Igreja deve confessar ao sacerdote todos os pecados graves que
ainda não confessou e de que se lembra depois de examinar cuidadosamente sua
consciência. Mesmo sem ser necessária em si a confissão das faltas veniais, a
Igreja não deixa de recomendá-la vivamente.
O confessor propõe ao penitente o
cumprimento de certos atos de “satisfação” ou de “penitência”, para reparar o
prejuízo causado pelo pecado e restabelecer os hábitos próprios ao discípulo de
Cristo.
Somente os sacerdotes que receberam da
autoridade da Igreja a faculdade de absolver podem perdoar os pecados em nome
de Cristo.
Os efeitos espirituais do sacramento da
Penitência são:
- a reconciliação
com Deus, pela qual o penitente recobra a graça;
- a reconciliação
com a Igreja;
- a remissão da pena
eterna divida aos pecados mortais;
- a remissão, pelo
menos em parte, das penas temporais, seqüelas do pecado;
- a paz e a
serenidade da consciência, e a consolação espiritual;
- o acréscimo de
forças espirituais para o combate cristão.
A confissão individual e integral dos
pecados graves, seguida da absolvição, continua sendo o único meio ordinário de
reconciliação com Deus e com a Igreja.
Pelas indulgências, os fiéis podem obter
para si mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas
temporais, seqüelas dos pecados.
TERCEIRA PARTE
A
VIDA EM CRISTO
“CRISTÃO, reconhece a tua
dignidade. Por participares agora da natureza divina, não te degeneres
retornando à decadência de tua vida passada. Lembra-te da CABEÇA a que
pertences e do CORPO de que és membro. Lembra-te de que foste arrancado do
poder das trevas e transferido para a luz e o REINO de DEUS”.
Santidade de Deus 82
Santidade de Deus 82
o Símbolo da fé professou a
grandeza dos dons de Deus na obra de sua criação e, mais ainda, pela redenção e
santificação. O que a fé confessa os sacramentos comunicam: pelos “sacramentos
que os fizeram renascer”, os cristãos se tornaram “filhos de Deus” (Jo1,12; 1Jo
3,1), “participantes de natureza divina” (2Pd 1,4). Reconhecendo na fé sua nova
dignidade, os cristãos são chamados a levar a partir de então uma “vida digna
do Evangelho de Cristo” (Fl 1,27). Pelos sacramentos e pela oração, recebem a
graça de Cristo e os dons de seu Espírito que os tornam capazes disso.
Jesus Cristo sempre fez o que
era do agrado do Pai. Sempre viveu em perfeita comunhão com ele. Também os
discípulos são convidados a viver sob o olhar do Pai “que vê o que está oculto”,
para se tornarem “perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
Incorporados a Cristo
pelo Batismo, os cristãos estão “mortos para o pecado e vivos para Deus em
Cristo Jesus” (Rm 6,11), participando assim da vida do Ressuscitado. Seguindo a
Cristo e em união com ele, podem “tornar-se imitadores de Deus como filhos
amados e andar no amor” (Ef 5,1), conformando seus pensamentos, palavras e
ações aos “sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5) e seguindo seus exemplos.
“Justificados em nome do
Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1Cor 6,11),
“santificados... chamados a ser santos” (1Cor 1,2), os cristãos se tornaram
“templo do Espírito Santo”. Esse “Espírito do Filho” os ensina a orar ao
Pai e, tendo-se tornado sua vida, os faz agir para carregarem em si “o fruto do
Espírito” (Gl 5,22) pela caridade operante. Curando as feridas do pecado, o
Espírito Santo os “renova pela transformação espiritual de nossa mente” (Ef
4,23), ele nos ilumina e purifica para vivermos como “filhos da luz” (Ef 5,8)
na “bondade, justiça e verdade” em todas as coisas (Ef 5,9).
Santidade de Deus 83
Santidade de Deus 83
O caminho de Cristo “conduz à
vida”, um caminho contrário “leva à perdição”. A parábola evangélica dos dois
caminhos está sempre presente na catequese da Igreja. Significa a importância
das decisões morais para nossa salvação. “Há dois caminhos, um da vida e outro
da morte; mas entre os dois há grande diferença”.
Importa, na catequese, revelar
com toda clareza a alegria e as exigências do caminho de Cristo. A catequese da
“vida nova” (Rm 6,4) em Cristo.
Peço que considereis que Jesus Cristo nosso
Senhor é vossa verdadeira Cabeça e que vós sois um de seus membros. Ele é para
vós o que a Cabeça é para os membros; tudo que é dele é vosso, seu espírito,
coração, corpo, alma e todas as suas faculdades, e deveis fazer uso disso como
coisa vossa para servir, louvar, amar e glorificar a Deus. Vós sois em relação
a ele o que os membros são em relação à cabeça. Assim, ele deseja fazer uso de
tudo o que está em vós para o serviço e a glória de seu Pai, como coisa sua.
Para mim viver é Cristo (Fl 1,21(.
CAPÍTULO III
A SALVAÇÃO DE DEUS:
A LEI E A GRAÇA
Chamado à felicidade, mas
ferido pelo pecado, o homem tem necessidade da salvação de Deus. o socorro
divino lhe é dado em Cristo pela lei que o dirige e na graça que o sustenta:
Trabalhai para vossa salvação
com temor e tremor, pois é Deus quem, segundo e sua vontade, realiza em vós o
querer e o fazer (Fl 2,12-13).
ARTIGO 3
A
IGREJA, MÃE E EDUCADORA
É em Igreja, em comunhão com
todos os batizados, que o cristão realiza a sua vocação. Da Igreja recebe a
palavra de Deus, que contém os ensinamentos da “lei de Cristo” (Gl 6,2).
Santidade de Deus 84
Da Igreja recebe a graça dos sacramentos, que o sustenta “no caminho”. Da Igreja aprende o exemplo da santidade; reconhece a sua figura e a sua fonte em Maria, a Virgem Santíssima; discerne-a no testemunho autêntico daqueles que a vivem, descobre-a na tradição espiritual e na longa história dos santos que o precederam e que a Liturgia celebra no ritmo do Santoral.
Santidade de Deus 84
Da Igreja recebe a graça dos sacramentos, que o sustenta “no caminho”. Da Igreja aprende o exemplo da santidade; reconhece a sua figura e a sua fonte em Maria, a Virgem Santíssima; discerne-a no testemunho autêntico daqueles que a vivem, descobre-a na tradição espiritual e na longa história dos santos que o precederam e que a Liturgia celebra no ritmo do Santoral.
A vida moral é um culto
espiritual. “Oferecemos nossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a
Deus”, no seio do corpo de Cristo que formamos, e em comunhão com a oferta de
sua Eucaristia. Na Liturgia e na celebração dos sacramentos, oração e doutrina
se conjugam com a graça de Cristo para iluminar e alimentar o agir cristão.
Como o conjunto da vida cristã, da mesma forma a vida moral encontra a sua
fonte e seu ponto culminante no sacrifício eucarístico.
I. VIDA MORAL E MAGISTÉRIO DA
IGREJA
A Igreja, “coluna e
sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15), “recebeu dos Apóstolos o solene mandamento
de Cristo de pregar a verdade da salvação”. “Compete à Igreja anunciar sempre e
por toda parte os princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se
a respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos
fundamentais da pessoa ou a salvação das almas”.
O magistério dos pastores da
Igreja em matéria moral se exerce ordinariamente na catequese e na pregação,
com o auxílio das obras dos teólogos e dos autores espirituais. assim se foi
transmitido de geração em geração, sob a égide e a vigilância dos pastores, o
“depósito” da moral cristã, composto de um conjunto característico de regras,
mandamentos e virtudes que procedem da fé em Cristo e são vivificados pela
caridade. Esta catequese tem tradicionalmente tomado por base, ao lado do Credo
e do Pater, o Decálogo que enuncia os princípios da vida moral, válidos para
todos os homens.
Santidade de Deus 85
Santidade de Deus 85
O romano pontífice e os bispos
“são os doutores autênticos dotados da autoridade de Cristo, que pregam ao povo
a eles confiado a fé que deve ser crida e praticada”. O magistério ordinário
e universal do Papa e dos Bispos em comunhão com ele ensina aos fiéis a verdade
que se deve crer, a caridade que se deve praticar, a felicidade que se pode
esperar.
O grau supremo da participação
na autoridade de Cristo é assegurado pelo carisma da infalibilidade.
Esta tem a mesma extensão que o depósito da revelação divina; estende-se ainda
a todos os elementos de doutrina, incluindo a moral, sem os quais as verdades
salutares da fé não podem ser preservadas, expostas ou observadas.
A autoridade do magistério se
estende também aos preceitos específicos da lei natural, porque sua
observância, exigida pelo Criador, é necessária para a salvação. Recordando as
prescrições da lei natural, o Magistério da Igreja exerce parte essencial de
sua função profética de anunciar aos homens o que são de verdade e
recordar-lhes o que devem ser diante de Deus.
A lei de Deus confiada à
Igreja é ensinada aos fiéis como caminho de vida e verdade. Os fiéis têm
portanto o direito de serem instruídos nos preceitos divinos salutares
que purificam o juízo e, com a graça, curam a razão humana ferida. Têm o
dever de observar as constituições e os decretos promulgados pela legítima
autoridade da Igreja. Mesmo que sejam disciplinares, tais determinações exigem
a docilidade na caridade.
Na obra de ensinar e aplicar a
moral cristã, a Igreja necessita de devotamento dos pastores, da ciência dos
teólogos, da contribuição de todos os cristãos e de todos os homens de boa
vontade. A fé e a prática do Evangelho proporcionam a cada fiel uma experiência
de vida “em Cristo”, que o ilumina e o torna capaz de apreciar as realidades
divinas e humanas segundo o Espírito de Deus. Assim é que o Espírito Santo pode
servir-se dos mais humildes para iluminar os sábios e os constituídos em
dignidade mais alta.
Santidade de Deus 86
Os ministérios devem ser exercidos em um espírito de serviço fraterno e dedicação à Igreja, em nome do Senhor. Ao mesmo tempo, a consciência de cada fiel, no seu julgamento moral sobre os seus atos pessoais, deve evitar encerrar-se em uma consideração individual. Dará o melhor de si para se abrir à consideração do bem de todos, tal como ele se exprime na lei moral, natural e revelada, e por conseguinte na lei da Igreja e no ensino autorizado do Magistério da Igreja.
Assim se pode desenvolver
entre os fiéis cristãos um verdadeiro espírito filial para com a Igreja.
Ele é o resultado normal do crescimento da graça batismal, que nos gerou no
seio da Igreja e nos fez membros do Corpo de Cristo. Na sua solicitude materna,
a Igreja nos concede a misericórdia de Deus que triunfa sobre todos os nossos
pecados e age de modo especial no sacramento da Reconciliação. Como mãe
solícita, ela nos prodigaliza também na sua Liturgia, dia após dia, o alimento
da Palavra e da Eucaristia do Senhor.
II. OS MANDAMENTOS DA IGREJA
Os mandamentos da Igreja
situam-se nesta linha de uma vida moral ligada à vida litúrgica e que dela se alimenta.
O caráter obrigatório dessas leis positivas promulgadas pelas autoridades
pastorais tem como fim garantir aos fiéis o mínimo indispensável no espírito de
oração e no esforço moral, no crescimento do amor de Deus e do próximo.
O primeiro mandamento da Igreja (“Participar
da missa inteira nos domingos e festas de guarda”) ordena aos fiéis que tomem
parte da celebração eucarística em que se reúne a comunidade cristã, no dia que
comemora a ressurreição do Senhor.
O segundo mandamento (“Confessar-se ao menos
uma vez por ano”) assegura a preparação para a Eucaristia pela recepção do
sacramento da Reconciliação, que continua a obra de conversão e perdão do
Batismo.
O terceiro mandamento (“Comungar ao menos
pela Páscoa da ressurreição”) garante um mínimo na recepção do Corpo e do
Sangue do Senhor em ligações com as festas pascais, origem e centro da Liturgia
Cristã.
Santidade de Deus 87
O quarto mandamento (“Santificar as festas de preceito”) completa a observância dominical pela participação nas principais festas litúrgicas, que veneram os mistérios do Senhor, a Virgem Maria e os santos.
O quinto mistério (“Jejuar e abster-se de
carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja”) determina os tempos de ascese e
penitência que nos preparam para as festas litúrgicas; contribuem para nos
fazer adquirir o domínio sobre os nossos instintos e a liberdade do coração.
Os fiéis cristãos têm ainda a obrigação de
atender, cada um segundo suas capacidades, às necessidades materiais da Igreja.
III. VIDA MORAL E TESTEMUNHO
MISSIONÁRIO
A fidelidade dos batizados é
condição primordial para o anúncio do Evangelho e para a missão da Igreja no
mundo. Para manifestar diante dos homens a sua força de verdade e de
irradiação, a mensagem da salvação deve ser autenticada pelo testemunho de vida
dos cristãos: “O próprio testemunho de vida cristã e as boas obras feitas em
espírito sobrenatural possuem a força de atrair os homens para a fé e para
Deus”.
Por serem os membros do Corpo
cuja Cabeça é Cristo, os cristãos contribuem pela constância de suas convicções
e de seus costumes para a edificação da Igreja. A Igreja aumenta, cresce
e se desenvolve pela santidade de seus fiéis, até que “alcancemos todos nós
(...) o estado de homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo”
(Ef 4,13)
Pela sua vida segundo Cristo,
os cristãos apressam a vinda do Reino de Deus, do “Reino de justiça, da verdade
e da paz”. Nem por isso se descuidam de suas obrigações terrestres: fiéis a seu
Senhor e Mestre, eles as cumprem com retidão, com paciência e amor.
RESUMINDO
A vida moral é um culto espiritual. O agir
cristão se nutre da Liturgia e da celebração dos sacramentos.
Os mandamentos da Igreja se referem à vida
moral e cristã, unida à Liturgia, e dela se alimentam.
Santidade de Deus 88
O Magistério dos pastores da Igreja em matéria moral se exerce ordinariamente na catequese e na pregação, tendo como base o Decálogo, que enuncia os princípios da vida moral, válidos para todos os homens.
O romano pontífice e os bispos, como
doutores autênticos, pregam ao povo de Deus a fé que deve ser crida e praticada
nos costumes. Cabe-lhes igualmente pronunciar-se sobre as questões morais que
caem dentro do âmbito da lei natural e da razão.
A infalibilidade do Magistério dos pastores
se estende a todos os elementos da doutrina, incluindo a moral. Sem esses
elementos, as verdades salutares da fé não podem ser guardadas, expostas ou
observadas.
OS DEZ MANDAMENTOS
ÊXODO 20,2-17
(1)
Eu
sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da servidão.
Não
terás outros deuses diante de mim.
Não
farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em
cima, nos céus, ou embaixo da terra, ou nas águas que estão debaixo da terra.
Não
te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, o Senhor teu
Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta geração dos que me odeiam, e faço misericórdia até a milésima geração àqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(1)
Eu
sou o Senhor teu Deus, aquele que te fez sair da terra do Egito, da casa da
servidão.
Não
terás outros deuses além de mim...
cic
(1)
Amar
a Deus sobre todas as coisas
Santidade de Deus 89
ÊXODO 20,2-17
(2)
Não
pronunciarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o senhor não deixará
impune aquele que pronunciar em vão o seu nome.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(2)
Não pronunciarás em vão o nome do Senhor teu Deus...
cic
(2)
Não tomar seu santo nome em vão.
ÊXODO 20,2-17
(3)
Lembra-te
do dia do sábado para santificá-lo.
Trabalharás
durante seis dias, e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado
do Senhor teu Deus.
Não
farás trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo nem tua
escrava, nem teu animal, nem o estrangeiro que está em tuas portas.
Porque
em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contém, mas repousou no sétimo dia; por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(3)
Guardarás o dia de sábado para santificá-lo...
cic
(3)
Guardar domingos e festas de guarda.
ÊXODO 20,2-17
(4)
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(4)
Honrar teu pai e tua mãe...
cic
(4)
(4)
Honra pai e mãe.
Santidade de Deus 90
ÊXODO 20,2-17
(5)
Não matarás.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(5)
Não matarás.
cic
(5)
Não matar.
ÊXODO 20,2-17
(6)
Não cometerás adultério.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(6)
Não cometerás adultério.
cic
(6)
Não pecar contra a castidade.
ÊXODO 20,2-17
(7)
Não roubarás.
Não roubarás.
cic
(7)
Não furtar.
ÊXODO 20,2-17
(8)
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(8)
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo.
cic
(8)
Não levantar falso testemunho.
.
ÊXODO 20,2-17
(9) e (10)
Não cobiçarás a casa de teu próximo, não desejarás a sua mulher, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(9)
Não cobiçarás a mulher de teu próximo.
cic
(9)
Não desejar a mulher do próximo.
cic
(6)
Não pecar contra a castidade.
ÊXODO 20,2-17
(7)
Não roubarás.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(7)
Não roubarás.
cic
(7)
Não furtar.
ÊXODO 20,2-17
(8)
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(8)
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo.
cic
(8)
Não levantar falso testemunho.
.
ÊXODO 20,2-17
(9) e (10)
Não cobiçarás a casa de teu próximo, não desejarás a sua mulher, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(9)
Não cobiçarás a mulher de teu próximo.
cic
(9)
Não desejar a mulher do próximo.
DEUTERONÔMIO 5,6-21
(10)
Não desejarás coisa alguma que pertença a teu próximo.
cic
(10)
Não cobiçar as coisas alheias.
Santidade de Deus 91
SEGUNDA SEÇÃO
OS
DEZ MANDAMENTOS
MESTRE, QUE
DEVO FAZER?...
“Mestre, que devo fazer de bom
para ter a vida eterna?” Ao jovem que faz esta pergunta Jesus responde primeiro
invocando a necessidade de reconhecer a Deus como “o único bom”, como o bem por
excelência e como a fonte de tudo bem. Depois Jesus diz: “Se queres entrar para
a Vida, guarda os mandamentos”. E cita ao seu interlocutor os preceitos que se
referem ao amor do próximo: “Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não
levantarás falso testemunho, honra pai e mãe”. Finalmente, Jesus resume estes
mandamentos de maneira positiva: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt
19,16-19).
A esta primeira resposta é
acrescentada uma segunda: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá
aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me” (Mt 19,21).
Esta não anula a primeira. O seguimento de Jesus Cristo inclui o cumprimento
dos mandamentos. A Lei não foi abolida, mas o home é convidado a reencontrá-la
na pessoa de seu Mestre, que é o cumprimento perfeito dela. Nos três Evangelhos
sinóticos, o apelo de Jesus dirigido ao jovem rico, de seguí-lo na obediência
do discípulo e na observância dos preceitos, é relacionado com o convite à
pobreza e a castidade. Os conselhos evangélicos são indissociáveis dos
mandamentos.
Jesus, com efeito, retomou os
Dez Mandamentos, mas manifestou a força do Espírito em ação na letra deles.
Pregou a “justiça que supera a todos escribas e fariseus” (Mt 5,20), como
também a dos pagãos. Desenvolveu todas as exigências dos mandamentos. “Ouvistes
que foi dito aos antigos: ‘não matarás’... Eu, porém, vos digo: todo aquele que
se encolerizar contra seu irmão terá de responder no tribunal” (Mt 5,21-22).
Quando lhe é feita a pergunta:
“Qual é o maior mandamento da lei” (Mt 22,36), Jesus responde: “Amarás ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento.
Santidade de Deus 92
Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda lei e os profetas” (Mt 22,37-40). O Decálogo deve ser interpretado à luz desse duplo e único mandamento da caridade, plenitude da lei:
Santidade de Deus 92
Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda lei e os profetas” (Mt 22,37-40). O Decálogo deve ser interpretado à luz desse duplo e único mandamento da caridade, plenitude da lei:
Os preceitos – não cometerás adultério, não
matarás, não furtarás, não cobiçarás, e todos os outros – se resumem nesta
sentença: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. A caridade não pratica o mal
contra o próximo. Portanto, a caridade é a plenitude da lei (Rm 13,9-10).
O DECÁLOGO NA SAGRADA ESCRITURA
A palavra “Decálogo” significa literalmente
“dez palavras” (Ex 34,28; Dt 4,13; 10,4). Deus revelou essas “dez palavras” ao
seu povo no monte sagrado. Ele as escreveu “com seu dedo” (Ex 31,18; Dt 5,22),
à diferença de outros preceitos escritos por Moisés. São palavras de Deus de
modo eminente. Foram transmitidas no livro do Êxodo e no Deuteronômio. Desde o
Antigo Testamento, os livros sagrados se referem às “dez palavras”. Mas é em Jesus
Cristo, na nova aliança, que será revelado seu sentido pleno.
O Decálogo deve ser entendido
em primeiro lugar no contexto do êxodo, que é o grande acontecimento libertador
de Deus no centro da Antiga Aliança. Formulados como preceitos negativos, como
proibições, ou como mandamentos positivos (como: “Honra teu pai e tua mãe”), as
“dez palavras” indicam as condições de uma vida liberta da escravidão do
pecado. O Decálogo é um caminho de vida:
Se amares teu Deus, se andares em seus
caminhos, se observares seus mandamentos, suas leis e seus costumes, viverás e
te multiplicarás (Dt 30,16).
Esta força libertadora do Decálogo aparece,
por exemplo, no mandamento sobre o descanso do sábado, destinado igualmente aos
estrangeiros e aos escravos.:
Lembrai-vos de que fostes escravos numa
terra estrangeira. O Senhor vosso Deus vos fez sair de lá com mão forte e braço
estendido (Dt 5,15).
Santidade de Deus 93
As “dez palavras” resumem e proclamam a lei de Deus: “Tais foram as palavras que, em alta voz, o Senhor dirigiu a toda a vossa assembléia no monte, do meio do fogo, em meio as trevas, nuvens e escuridão. Sem nada acrescentar, escreveu-as sobre duas tábuas de pedra e as entregou a mim” (Dt 5,22). Eis por que estas duas tábuas são chamadas “O Testemunho” (Ex 25,16). Pois contêm as cláusulas da aliança entre Deus e seu povo. Essas “tábuas do Testemunho” (Ex 31,18; 32,15; 34,19) devem ser colocadas “na arca” (Ex 25,16; 40,1-2).
As “dez palavras” são
pronunciadas por Deus no contexto de uma teofania (“sobre a montanha, no meio
do fogo, o Senhor vos falou face a face”: Dt 5,4). Pertencem à revelação que
Deus faz de si mesmo e da sua glória. O dom dos mandamentos e dom do próprio
Deus e de sua santa vontade. Ao dar a conhecer as suas vontades, Deus se revela
a seu povo.
O dom dos mandamentos e da Lei
Faz parte da Aliança selada por Deus com os seus. Segundo o livro do Êxodo, a
revelação das “dez palavras” é dada entre a proposta da Aliança e sua
conclusão, depois que o povo se comprometeu a “fazer” tudo o que o Senhor dissera,
e a “obedecer” (Ex 24,7). O Decálogo sempre é transmitido depois de se lembrar
a Aliança (“O Senhor nosso Deus concluiu conosco uma aliança no Horeb”: Dt
5,2).
Os mandamentos recebem seu
pleno significado no contexto da Aliança. Segundo a escritura, o agir moral do
homem adquire todo o seu sentido na Aliança e por ela. A primeira das “dez
palavras” lembra o amor primeiro de Deus por seu povo:
Tendo o homem, por castigo do pecado,
decaído do paraíso da liberdade para a escravidão deste mundo, as primeiras
palavras do Decálogo, voz primeira dos divinos mandamentos, aludem à liberdade:
“Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da
escravidão” (Ex 20,2; Dt 5,6).
Santidade de Deus 94
Os mandamentos propriamente
ditos vêm em segundo lugar; exprimem as implicações da pertença a Deus,
instituída pela Aliança. A existência moral é resposta à iniciativa
amorosa do Senhor. É reconhecimento, submissão a Deus e culto de ação de
graças. É cooperação com o plano que Deus persegue na história.
A Aliança e o diálogo entre
Deus e o homem são ainda confirmados pelo fato de que todas as obrigações são
enunciadas na primeira pessoa (“Eu sou o Senhor...”) e dirigidas a um outro
sujeito (“tu...”). Em todos os mandamentos de Deus, é um pronome pessoal singular
que designa o destinatário. Deus dá a conhecer sua vontade a cada um em
particular ao mesmo tempo em que o faz ao povo inteiro:
O Senhor prescreveu o amor para com Deus e
ensinou a justiça para com o próximo, a fim de que o homem não fosse nem
injusto nem indigno de Deus. Assim,, pelo Decálogo, Deus preparou o homem para
se tornar seu amigo e ter um só coração para com o próximo... Da mesma maneira,
as palavras do Decálogo continuam válidas entre nós [cristãos]. Longe de serem
abolidas, elas foram levadas à plenitude do próprio significado e
desenvolvimento pelo fato da vinda do Senhor na carne.
O DECÁLOGO NA TRADIÇÃO DA IGREJA
Fiel à Escritura e de acordo
com o exemplo de Jesus, a Tradição da Igreja reconheceu ao Decálogo uma
importância e um significado primordiais.
Desde Santo Agostinho, os “dez
mandamentos” têm um lugar preponderante na catequese dos futuros batizados e
dos fiéis. No século XV adotou-se o costume de exprimir os preceitos do
Decálogo em fórmulas rimadas, fáceis de memorizar, e positivas. Ainda estão em
uso hoje. Os catecismos da Igreja com freqüência têm exposto a moral cristã
seguindo a ordem dos “dez mandamentos”.
A divisão e a numeração dos mandamentos têm variado no decorrer da
história. O presente catecismo segue a divisão dos mandamentos estabelecida por
Santo Agostinho e que se tornou tradicional na Igreja católica. É também a das
confissões luterana. Os Padres gregos fizeram uma divisão um tanto diferente,
que se encontra nas Igrejas ortodoxas e nas comunidades reformadas.
Santidade de Deus 95
Os dez mandamentos enunciam as exigências do amor de Deus e do próximo. Os três primeiros se referem mais ao amor de Deus, e os outros sete ao amor do próximo.
Como a caridade abrange dois preceitos com
os quais o Senhor relaciona toda a Lei e os Profetas(...) assim os próprios dez
preceitos estão divididos em duas tábuas. Três foram escritos numa tábua e sete
na outra.
O Concílio de Trento ensina que os dez
mandamentos obrigam os cristãos, e que o homem justificado ainda está obrigado
a observá-los. E o Concílio Vaticano II afirma: “Como sucessores dos Apóstolos,
os bispos recebem do Senhor(...) a missão de ensinar a todos os povos e pregar
o Evangelho a toda criatura, afim de que os homens todos, pela fé, pelo Batismo
e pelo cumprimento dos mandamentos, alcancem a salvação”.
A UNIDADE DO DECÁLOGO
O Decálogo forma um todo
inseparável. Cada “palavra” remete a cada uma das outras e a todas; elas se
condicionam reciprocamente. As duas tábuas se esclarecem mutuamente; formam uma
unidade orgânica. Transgredir um mandamento é infringir todos os outros. Não se
pode honrar os outros sem bendizer a Deus, seu criador. Não se pode adorar a
Deus sem amar a todos os homens, suas criaturas. O Decálogo unifica a vida
teologal e a vida social do homem.
O DECÁLOGO E A LEI NATURAL
Os dez mandamentos pertencem à
revelação de Deus. Ao mesmo tempo revelam-nos a verdadeira humanidade do homem.
Iluminam os deveres essenciais e portanto, indiretamente, os deveres
fundamentais, inerentes à natureza da pessoa humana. O Decálogo contém uma
expressão privilegiada da “lei natural”:
Santidade de Deus 96
Desde o começo Deus enraizara no coração dos
homens os preceitos da lei natural. Inicialmente ele se contentou em lhos
recordar. Foi o Decálogo.
Embora acessíveis à razão, os preceitos do
Decálogo foram revelados. Para chegar a um conhecimento completo e certo das
exigências da lei natural, a humanidade pecadora tinha necessidade desta
revelação:
Uma explicação completa dos mandamentos do
Decálogo se tornou necessária no estado de pecado por causa do obscurecimento
da luz da razão e do desvio da vontade.
Conhecemos os mandamentos de |Deus pela
Revelação divina que nos é proposta na Igreja e através da consciência moral.
A OBRIGATORIEDADE DO DECÁLOGO
Visto que exprimem os deveres fundamentais
do homem para com Deus e para com o próximo, os dez mandamentos revelam, em seu
conteúdo primordial, obrigações graves. São essencialmente imutáveis, e
sua obrigação vale sempre e em toda parte. Ninguém pode dispensar-se deles. Os
dez mandamentos estão gravados por Deus no coração do ser humano.
A obediência aos mandamentos
implica ainda obrigações cuja matéria é, em si mesma, leve. Assim, a injuria
por palavra está proibida no quinto mandamento, mas só poderia ser falta grave
em função das circunstâncias ou da intenção daquele que a profere.
“SEM MIM, NADA PODEIS FAZER”
Jesus diz: “Eu sou a videira e
vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque,
sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). O fruto evocado nesta palavra é a
santidade de uma vida fecunda pela união a Cristo.
Santidade de Deus 97
Quando cremos em Jesus Cristo, comungamos de seus mistérios e guardamos seus mandamentos, o Salvador mesmo vem amar em nós em seu Pai e seus irmãos, nosso Pai e nossos irmãos. Sua pessoa se torna, graças ao Espírito, a regra viva e interior de nosso agir. “Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jô 15,12).
Santidade de Deus 97
Quando cremos em Jesus Cristo, comungamos de seus mistérios e guardamos seus mandamentos, o Salvador mesmo vem amar em nós em seu Pai e seus irmãos, nosso Pai e nossos irmãos. Sua pessoa se torna, graças ao Espírito, a regra viva e interior de nosso agir. “Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jô 15,12).
RESUMINDO
“Que
devo fazer de bom para ter a vida eterna?” – “Se queres entrar para a
vida , guarda os mandamentos” (Mt 19,16-17).
Por sua prática e por sua pregação, Jesus
atestou a perenidade do Decálogo
O dom do Decálogo é concedido no contexto da
Aliança celebrada por Deus com seu povo. Os mandamentos de Deus recebem seu
verdadeiro significado nessa Aliança e através dela.
Fiel à escritura, e de acordo com o exemplo
de Jesus, a Tradição da Igreja reconheceu ao Decálogo uma importância e um
significado primordiais.
O Decálogo forma uma unidade orgânica, em
que cada “palavra” ou “mandamento” remete a todo o conjunto. Transgredir um
mandamento é infringir toda a Lei.
O Decálogo contém uma expressão privilegiada
da lei natural. Conhecemo-lo pela revelação divina e pela razão humana.
Os Dez Mandamentos enunciam, em seu conteúdo
fundamental, obrigações graves. Todavia a obediência a esses preceitos implica
também obrigações cuja matéria é, em si mesma, leve.
O que Deus manda, torna-o possível pela sua
graça.
_______________________________________________________________
(Ó meu Deus! bem-aventurada Trindade, desejo
amar-vos e fazer que vos amem, trabalhar pela glorificação da Santa Igreja,
salvando as almas que estão na terra, e libertando as que sofrem no Purgatório.
Desejo cumprir, perfeitamente, vossa vontade e alcançar o grau de glória que me
preparastes em vosso Reino. Numa palavra, desejo ser santa, mas sinto minha
insuficiência, e peço-vos, ó meu Deus, sede Vós mesmo a minha santidade.
(Santa Terezinha do Menino Jesus)).
Transcrito de: As Maravilhas do Padre Donizete (Dom Dadeus Grings) e Catecismo da Igreja Católica (Papa João Paulo II)
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